O assunto que vamos tratar nesta postagem vai de encontro a maioria das
ilustrações feitas para as crianças cristãs, seja em revistas de Escola
Dominical, Bíblias ilustradas, vídeos na internet etc. Ao mesmo tempo explica o
que muita gente adulta tem dúvida, por terem aprendido incorretamente.
Você já viu ilustrações onde uma cobra conversa com a primeira mulher
incentivando-a a comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal? Aliás,
a Bíblia não diz que era uma maçã, como muitos repetem, e não era ‘o fruto do
conhecimento’, como alguns chamam para zombar da Bíblia, como se Deus fosse
contra termos conhecimentos científicos.
Para pior as aberrações, enquanto escrevia este texto, ouvi de um
‘pastor’ que o primeiro casal comeu do ‘fruto da sabedoria’... De onde esse
pregador tirou isso, gente? Com certeza, não foi da Bíblia...
Assim como há confusão com relação ao fruto, também há confusão com
relação à serpente. Nossa intensão aqui é explicar quem realmente estava
conversando com a mulher em Gênesis 3. Para isso, temos que responder as
seguintes perguntas:
1 - Quem disse que foi uma
serpente?
Para responder esta pergunta, apresentamos no quadro abaixo apenas as
falas dos personagens que participaram do evento relatado em Gênesis 3.
Essa forma de texto é chamada de discurso direto, onde ocultamos as
informações adicionais apresentadas pelo narrador que mostra o contexto da
cena, neste caso, Moisés, o escritor de Gênesis.
- É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
- Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore
que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis
para que não morrais.
- Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele
comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o
mal.
...
- Onde estás?
- Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e
escondi-me.
- Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te
ordenei que não comesses?
- A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e
comi.
- Por que fizeste isto?
- A serpente me enganou, e
eu comi.
- Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais
que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos
os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar.
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Analisando as falas acima, observamos que desde o primeiro versículo de
Gênesis 3 o termo ‘serpente’ é citado por Moisés, o narrador da história, mas
apenas no versículo 13, de fato, o termo ‘serpente’ aparece no diálogo, sendo
citado pela mulher.
Entre o tentador, a mulher, Adam e Deus, quem primeiro usa esse termo é
a mulher.
2 - É possível que a mulher
tenha utilizado uma metáfora para denominar o tentador?
O que é mais lógico? A mulher ter mantido um diálogo com um animal
irracional, ou a mulher ter chamado o tentador de serpente?
Quando Deus questiona a mulher porque ela deu do fruto do conhecimento
do bem e do mal para Adam, ela diz que a ‘serpente a enganou’ como uma figura
de linguagem, que melhor definiria o seu sentimento de frustração, a sensação
de ter sido enganada, a revolta por ter caído na lábia do tentador...
É normal compararmos pessoas a coisas, animais e até outras pessoas.
Citemos alguns exemplos que as pessoas costumam usar hoje para ofender
ou elogiar outros:
‘Seu anta!’; ‘Para de morcegar!’; ‘Seu burro!’; ‘Estou falando com as
paredes!’; ‘Seu prego!’; ‘Acelera Rubinho!’; ‘Você é um doce!’; ‘Minha flor!’;
‘Minha pomba.’; ‘Gatinha!’; ‘Avião!’ etc.
Você já deve ter ouvido alguém comparar uma pessoa falsa com uma
‘cobra’, não é mesmo?
Pois bem! É possível a mulher ter usado uma figura de linguagem...
Sendo ajudadora de seu marido Adam, que recebeu a missão de nomear e
dominar sobre todos os animais (Gênesis 1:28; 2:19,20), ela pode ter observado
as características negativas da serpente, que agora se encaixavam perfeitamente
naquele que a enganou.
Ela não sabia descrever quem de fato a enganou, não sabia seu nome e,
na verdade, nem a viu fisicamente, como uma serpente que, escondida, dá seu
bote.
3 - Como discernir o que é
figura de linguagem, e o que não é, num texto escrito há milhares de anos
atrás?
Imagine que você hoje descreva uma situação em sala de aula da seguinte
forma: ‘Na minha sala tinha um burro que ficou reprovado em todas as matérias,
mas era muito meu amigo.’
Digamos que você escreva isso em sua biografia e, daqui há seis mil
anos, alguém queira considerar o seu livro como lenda, ou outros queiram
afirmar que na sua época burros estudavam junto com humanos. São dois extremos
muito grandes, não é mesmo?
Sendo assim, observemos o contexto:
- A mulher ficaria conversando normalmente com uma serpente?
- Se a serpente falasse, ou mesmo todos os animais falassem, quando
eles pararam de falar? Não há um juízo divino com a proibição da linguagem dos
animais, nem neste, ou nenhuma outra passagem bíblica.
- Quando o planeta for regenerado, os animais voltarão ao estado
original, ou seja, voltarão a ser herbívoros, mas a serpente continuará, como
sempre foi, se arrastando. A única diferença é que ela não fará mal ao ser
humano, bem como todos os animais selvagens.
“E brincará a criança de peito
sobre a toca da áspide, e a desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco.”
Isaías 11:8
“O lobo e o cordeiro se apascentarão
juntos, e o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não
farão mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” Isaías
65:25
- Os que consideram que Satan incorporou no animal, aplicam uma parte
do juízo divino sobre o animal (Gênesis 3:14) e outra parte em Satan (Gênesis
3:15). Mas, como fazer essa separação? Ou Deus estava julgando o bicho ou o
espírito. Ou o juízo está sendo sobre um, ou sobre o outro.
- Por que Deus julgaria o animal que não tem ‘culpa’ alguma de ter sido
apossado por Satan (se é que isso aconteceu)?
Vamos entender porque a metáfora da serpente, analisando suas
características:
- Há serpentes ovíparas, ou seja, que põe ovos e se ausenta;
- As serpentes fazem a muda, ou seja, trocam de pele durante a
vida;
- As serpentes podem engolir presas muito maiores do que ela
devido um ligamento elástico entre as duas mandíbulas e as costelas serem
soltas;
- As serpentes entram em torpor para fazer a digestão, não sobrando
quase nada da vítima (só sobra pelos e garras eliminados com o ácido
úrico);
- As serpentes têm os sentidos diferenciados, pois possuem visão
limitada, não tem orelhas externas, não emitem sons pela boca, mas sua língua
tem função de tato e olfato;
- As serpentes podem seguir suas vítimas por distâncias muito
longas farejando através de um órgão que possui no céu da boca, rastros que elas
deixaram ao caminhar;
- Muitas serpentes são peçonhentas, ou seja, envenenam suas vítimas
através de uma mordida ou através de jatos (‘cuspes’) que podem alcançar até
três metros de distância, como a naja;
- Outras, matam suas vítimas pelo estrangulamento;
- Quase todas as serpentes peçonhentas notam a presença de suas
vítimas pela temperatura do ambiente, através de uma depressão chamada
fosseta lacrimal em sua cabeça;
- As serpentes se rastejam de quatro formas diferentes, seja
fazendo ondulações, fazendo movimento de concertina para subir em árvores,
fazendo movimento como de uma mola ou fazendo zig zag;
- As serpentes podem ser encontradas em qualquer lugar.
Observando as características citadas acima, você concorda que a
serpente tem muitas características que contribuíram para que a mulher
comparasse o seu tentador ao animal?
4 - Se realmente a ‘serpente’
era um animal, então, podemos afirmar que antes ela voava ou tinha pernas e
ainda falava?
Quem alega que a serpente mentirosa realmente era um animal, terão que
explicar em que momento ela parou de falar, pois a maldição sobre ela foi:
“Então o Senhor Deus disse à
serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais
que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos
os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Gênesis 3:14,15
Ou seja, o juízo está ligado à comparação entre a serpente e os outros
animais, sobre a forma da serpente se locomover, sobre o relacionamento da
serpente com a mulher, sobre o confronto da descendência da serpente com a
descendência da mulher e, em especial, sobre a derrota final da serpente pelo filho
da mulher.
Primeiramente, se o animal falasse, a proibição seria que ele parasse de
falar, e não passasse a rastejar...
Em segundo lugar, com base no juízo sobre rastejar, há os que supõem
que a serpente anteriormente tinha pernas. Tentam até encontrar “patas
vestigiais”, fósseis de cobra com pernas etc. Outros vão além e supõe que ela,
inclusive, poderia voar... Mas a Bíblia não afirma nada disso.
Em último lugar, no juízo sobre a mulher e o homem, não houve alteração
sobre os seus corpos físicos. Por que haveria, então, alteração no corpo do
animal? Não faz sentido...
Em Gênesis 1:28, Deus já havia feito os animais rastejantes que
rastejam sobre a terra e disse que era bom. Ou seja, não é após o pecado que a serpente
rastejou, mas já fora criada assim.
Seja quem for o tentador, Deus aproveitou a metáfora da mulher e
afirmou que ele ‘rastejaria’, como a serpente...
5 - Se não era uma serpente
literalmente falando, então porque Deus também trata o tentador como uma
serpente?
“Então o Senhor Deus disse à
serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais
que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos
os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Gênesis 3:14,15
Ao lermos esses versículos, a princípio, parece que Deus está falando
com um animal, porém, que relevância teria essa narrativa, relacionada ao
restante das Escrituras?
O objetivo de Gênesis 3 é explicar o início do confronto entre homens e
serpentes?
O restante de Gênesis e da Bíblia fala sobre o combate entre os
descendentes da mulher e os descendentes do animal serpente?
Com certeza, não.
Vejamos alguns casos onde novamente aparecem as serpentes nas
Escrituras:
- Deus transformou a vara de Moisés em serpente em Êxodo 4:2-5 e a vara
de Arão em Êxodo 7:8-12 para mostrar a Faraó o Seu poder. Os feiticeiros do
Egito fizeram o mesmo, porém as serpentes da vara de Arão engoliram as
serpentes dos feiticeiros.
- Deus envia a Israel serpentes venenosas que matou muitos israelitas
por causa de sua murmuração em Números 21:5-9. O interessante é que Deus pede a
Moisés para fazer uma serpente de bronze numa haste para que fossem curados os
que olhassem para ela.
- Ao sobreviver a um naufrágio, o apóstolo Paulo juntou uns galhos, pôs
neles fogo e uma víbora o picou em Atos 28:3-6. Ele a sacudiu no fogo e, para
surpresa das pessoas ali presentes, sobreviveu.
No primeiro caso, a vara transformada em serpente, Deus demonstra que
tem poder sobre a serpente. No segundo e no terceiro caso aparecem serpentes
picando os humanos, porém no segundo caso uma serpente de bronze é o canal para
Deus curar os israelitas.
Ou seja, o foco da Bíblia não é falar sobre o conflito entre serpentes
e homens.
Analise os versículos abaixo. Quando cita, por exemplo, a serpente,
está falando no sentido literal ou figurado?
“Pisarás o leão e a cobra;
calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.” Salmos 91:13
“Eis que vos dou poder para pisar
serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum.”
Lucas 10:19
Dentre outros motivos, que ainda falaremos nesta postagem, Deus é dono
de toda sabedoria e, por isso mesmo, Ele pode ter feito a serpente justamente
para nos ensinar sobre o perigo da traição, do veneno da mentira, do abraço que
mata, daquele que gera um filho e se ausenta, que muda de aparência facilmente,
que deseja nos engolir/ destruir completamente, que acompanha a sua vítima com
paciência até alcança-la, que tem sentidos diferentes que o nosso etc.
Na verdade, antes da mulher denominar o tentador de serpente, ela pode
ter associado que o próprio Deus fez a serpente para ensinar sobre o perigo do
tentador...
Por isso, Moisés começa o capítulo 3 de Gênesis dizendo:
“Ora, a serpente era mais astuta
que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito...” Gênesis
3:1
E, assim como as características da serpente falam sobre o tentador,
Deus aproveita a situação para revelar o futuro do tentador: Ele rastejaria e
sua cabeça seria esmagada pelo filho da mulher...
6 - Qual as comparações que são
feitas na Bíblia com relação à cobra?
No original hebraico, a palavra para serpente em Gênesis 3 é nahash [נחש].
Segue abaixo as vezes que, na Bíblia, é citada a palavra nahash para
verificarmos se ela é utilizada no sentido literal ou comparativo. Para
identificar as vezes que, no original, está nahash, colocamos a palavra em negrito:
Comparativo:
“Dã julgará o seu povo, como uma
das tribos de Israel. Dã será serpente
junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do
cavalo, e faz cair o seu cavaleiro por detrás. A tua salvação espero, ó Senhor!”
Gênesis 49:16-18
Nesta passagem, como podemos ver, nahash é utilizada de maneira
simbólica.
O primeiro danita que se destaca nas Escrituras é Aoliabe, que foi um
dos responsáveis pela construção do tabernáculo (Êxodo 31:6; 35:34,35;
38:22,23). O segundo foi um rapaz filho de uma israelita com um egípcio que
blasfemou o nome do Senhor e, por isso, foi apedrejado (Levítico 24:10-16). O
personagem mais famoso da tribo de Dã foi o juiz Sansão, aquele que, consagrado
desde o ventre, viveu em desobediência e, embora tão forte, foi tão fraco
diante da sedução das mulheres e teve um fim trágico (Juízes 13:1 – 16:31). Ao
conquistar suas terras em Canaã, a tribo de Dã já começou errada, pois criou um
culto próprio, com sacerdotes próprios e um ídolo na cidade de Dã (Juízes 18). Outro
danita perito aparece para construir o templo (II Crônicas 2:13,14). Mais
tarde, após a divisão do reino de Israel, a cidade de Dã foi um centro de
idolatria (I Reis 12:28,29). Na listagem sobre os futuros israelitas salvos na
Grande Tribulação, a tribo de Dã foi excluída (Apocalipse 7:4-8).
Dã representa, tanto na pessoa de Sansão, quanto na tribo inteira,
aquele que foi chamado, mas foi reprovado. O veneno de sua idolatria contagiou
toda uma nação, a nação santa de Deus. Sansão é mais um dos que ficou cego, ao
deixar-se ser contaminado pelo veneno da serpente. E, quem sabe, Sansão foi a
própria serpente que (ao beber vinho, tocar em animal morto, casar-se com
mulher gentia, se prostituir e contar o segredo que não era para contar)
contaminou a muitos com seu mau exemplo...
“Alienam-se os ímpios desde a
madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras. O seu veneno é
semelhante ao veneno da serpente;
são como a víbora surda, que tapa os ouvidos, para não ouvir a voz dos
encantadores, do encantador sábio em encantamentos. Ó Deus, quebra-lhes os
dentes nas suas bocas; arranca, Senhor, os queixais aos filhos dos leões.”
Salmos 58:3-6
“Livra-me, ó SENHOR, do homem
mau; guarda-me do homem violento, que pensa o mal no coração; continuamente se
ajuntam para a guerra. Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. (Selá)
Guarda-me, ó Senhor, das mãos do ímpio; guarda-me do homem violento; os quais
se propuseram transtornar os meus passos. Os soberbos armaram-me laços e
cordas; estenderam a rede ao lado do caminho; armaram-me laços corrediços.
(Selá)” Salmos 140:1-5
Nos dois textos a serpente é utilizada para comparação.
No primeiro salmo, o veneno da serpente é comparado à mentira. No
segundo, o veneno da serpente produz a morte, arquitetada pelo ímpio.
O primeiro salmo cita o fato da serpente não ouvir como nós. Como já
dissemos antes, a serpente possui sentidos diferentes dos humanos. Isso nos
remete ao tipo de comunicação que a mulher teve com a ‘Serpente’. Não foi uma
comunicação através das cordas vocálicas...
“Não olhes para o vinho quando se
mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No fim,
picará como a cobra, e como o
basilisco morderá. Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu
coração falará perversidades.” Provérbios 23:31-33
Aqui, o veneno da serpente é comparado à bebida alcóolica, que faz as
pessoas se prostituirem e agir de maneira errada. Já mencionamos aqui neste
estudo que a idolatria na Bíblia é comparada à prostituição, lembra? Pois bem,
mais uma vez ligamos ao Gênesis, onde a ‘Serpente’ seduziu o primeiro casal à
rebeldia contra Deus, ao consulta-la.
“Não te alegres, tu, toda a
Filístia, por estar quebrada a vara que te feria; porque da raiz da cobra sairá
um basilisco, e o seu fruto será uma serpente
ardente, voadora.” Isaías 14:29
A descendência da ‘Serpente’, que é aqui é comparada à Babilônia, que
viria do Norte, seria como uma nahash que atacaria os filisteus. Aqui podemos confirmar
que a semente da serpente de Gênesis 3:15 pode ser seres humanos. Até porque,
não é Babilônia que atacou também Israel, a semente da mulher, a nação santa do
Senhor? Além disso, é justamente nesse capítulo que Deus revela a queda de
Satan no Princípio (Isaías 14:12-14).
“Vai, pois, povo meu, entra nos
teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento,
até que passe a ira. Porque eis que o Senhor sairá do seu lugar, para castigar
os moradores da terra, por causa da sua iniquidade, e a terra descobrirá o seu
sangue, e não encobrirá mais os seu mortos. Naquele dia o SENHOR castigará com
a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, a serpente veloz, e o leviatã, a serpente
tortuosa, e matará a serpente, que está no mar. Naquele dia haverá uma vinha de
vinho tinto; cantai-lhe.” Isaías 26:20-21; 27:1-2
Substituindo pelos originais hebraicos, temos a seguinte relação de
animais: ‘o leviatã, a nahash veloz, e o
leviatã, a nahash tortuosa, e matará a tanyn, que está no mar’. Mais uma
vez, os animais ligados à serpente apontam para outra criatura, um ser pessoal
que será julgado no fim, no dia do Juízo. A passagem, assim como Gênesis 3, não
pode estar falando sobre o animal especificamente.
“Espera-se a paz, mas não há bem;
o tempo da cura, e eis o terror. Já desde Dã se ouve o resfolegar dos seus
cavalos, toda a terra treme ao som dos rinchos dos seus fortes; e vêm, e
devoram a terra, e sua abundância, a cidade e os que habitam nela. Porque eis
que envio entre vós serpentes e
basiliscos, contra os quais não há encantamento, e vos morderão, diz o Senhor.”
Jeremias 8:15-17
Aqui o significado para serpente também é além do literal. Estas
representam o exército inimigo que atacaria o Reino de Judá.
“O Egito é uma novilha mui
formosa; mas do norte é vindo um tavão sobre ela. Também os seus soldados
mercenários no meio dela são como bezerros cevados; eles igualmente voltaram
para trás, fugiram juntos, não ficaram firmes; pois é vindo sobre eles o dia da
sua calamidade, o tempo da sua visitação. O seu ruído é como o da serpente que foge; à frente dum
exército marcharão e virão contra ela com machados como os que cortam lenha.”
Jeremias 46:20-22
Nessa passagem, o barulho do juízo que viria sobre o Egito é comparado à
fuga da serpente.
“E em todas as vinhas haverá
pranto; porque passarei pelo meio de ti, diz o Senhor. Ai daqueles que desejam
o dia do Senhor! Para que quereis vós este dia do Senhor? Será de trevas e não
de luz. É como se um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele
o urso; ou como se entrando numa casa, a sua mão encostasse à parede, e fosse
mordido por uma cobra.” Amós
5:17-19
O momento da vinda de Jesus é comparado à vários juízos. Um deles é a
picada da serpente.
“E, se se esconderem no cume do
Carmelo, buscá-los-ei, e dali os tirarei; e, se dos meus olhos se ocultarem no
fundo do mar, ali darei ordem à serpente,
e ela os picará.” Amós 9:3
O juízo sobre Israel é comparado à picada da serpente.
“As nações o verão, e
envergonhar-se-ão, por causa de todo o seu poder; porão a mão sobre a boca, e
os seus ouvidos ficarão surdos. Lamberão o pó como serpente, como vermes da terra, tremendo, sairão dos seus
esconderijos; com pavor virão ao Senhor nosso Deus, e terão medo de ti.” Miquéias
7:16-17
Agora o juízo sobre os gentios de forma geral é comparado ao rastejar
da serpente.
Literal:
“Então partiram do monte Hor,
pelo caminho do Mar Vermelho, a rodear a terra de Edom; porém a alma do povo
angustiou-se naquele caminho. E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por
que nos fizestes subir do Egito para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui
nem pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil. Então o
Senhor mandou entre o povo serpentes
ardentes, que picaram o povo; e morreu muita gente em Israel. Por isso o povo veio
a Moisés, e disse: Havemos pecado, porquanto temos falado contra o Senhor e
contra ti; ora ao Senhor que tire de nós estas serpentes. Então Moisés orou pelo povo. E disse o Senhor a Moisés:
Faze-te uma serpente ardente, e
põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar
para ela. E Moisés fez uma serpente
de metal, e pô-la sobre uma haste; e sucedia que, picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava
para a serpente de metal, vivia.”
Números 21:4-9
“Que te guiou por aquele grande e
terrível deserto de serpentes
ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água
para ti da rocha pederneira;” Deuteronômio 8:15
‘Serpentes ardentes’ é o mesmo que
‘serpentes que queimam’, ou ‘serpentes venenosas’. No hebraico seria nahashym
serafym [נחשים שרפים].
Seraf [שרפ] significa fogo, incêncio, queimar,
acender, porém aqui trás a ideia de peçonha, veneno. Note que, no caso de
Números, quem era picado morria. No caso de Deuteronômio, esse animal está
associado ao escorpião.
Nesta passagem nahash é utilizada de maneira literal, porém, o termo
serafym é utilizado em Isaías 6:1-7 para os seres celestes que adoram o Senhor.
Sendo assim, nossa visão amplia ainda mais e confirma o fato de que a nahash
que enganou a esposa de Adam um dia pode ter sido um ser espiritual que adorava
a Deus.
“E o Senhor disse-lhe: Que é isso
na tua mão? E ele disse: Uma vara. E ele disse: Lança-a na terra. Ele a lançou
na terra, e tornou-se em cobra; e
Moisés fugia dela. Então disse o Senhor a Moisés: Estende a tua mão e pega-lhe
pela cauda. E estendeu sua mão, e pegou-lhe pela cauda, e tornou-se em vara na
sua mão;... E o Senhor falou a Moisés e a Arão, dizendo:
Quando Faraó vos falar, dizendo:
Fazei vós um milagre, dirás a Arão: Toma a tua vara, e lança-a diante de Faraó;
e se tornará em serpente. Então Moisés e Arão foram a Faraó, e fizeram assim
como o Senhor ordenara; e lançou Arão a sua vara diante de Faraó, e diante dos
seus servos, e tornou-se em serpente. E Faraó também chamou os sábios e
encantadores; e os magos do Egito fizeram também o mesmo com os seus
encantamentos. Porque cada um lançou sua vara, e tornaram-se em serpentes; mas
a vara de Arão tragou as varas deles. Porém o coração de Faraó se endureceu, e
não os ouviu, como o Senhor tinha falado. Então disse o Senhor a Moisés: O
coração de Faraó está endurecido, recusa deixar ir o povo. Vai pela manhã a
Faraó; eis que ele sairá às águas; põe-te em frente dele na beira do rio, e
tomarás em tua mão a vara que se tornou em cobra.”
Êxodo 4:2-4; 7:8-15
Nestas passagens de Êxodo, três vezes a palavra serpente está no
original como tanyn [תנין],
outro nome bíblico para o animal, e duas vezes a palavra nahash. Embora aqui o
termo nahash também indique que era uma serpente literal, ou seja, a vara
realmente foi transformada em uma serpente, o ato de Moisés segurar na cauda da
serpente, demostra domínio sobre ela. Jesus fala sobre isso (Marcos 16:18).
Deus é aquele que tem o domínio sobre a entidade que seduz o homem. Seja quem
for esta entidade, ela não pode fazer tudo o que quer (até porque, pela sua
vontade, esse ser espiritual cruel já teria aniquilado de vez a humanidade).
Deus está no controle!
“Pelo seu Espírito ornou os céus;
a sua mão contorce a serpente fugitiva.”
Jó 26:13;
Aqui, a serpente também é literal, mas, se lermos o contexto, Jó está
falando sobre a criação do universo, sobre a separação das águas, da luz e das
trevas etc. e, no meio de tudo isso cita justamente esse animal...
O termo fugitiva também é traduzido por veloz ou enrocadiça. O termo
contorcer pode dar a ideia de Deus formando a serpente, ou mesmo a matando,
destruindo. Seja qual for a melhor tradução, são duas verdades. Assim como Deus
um dia criou a ‘Serpente’, um dia Ele a destruirá. E não adianta ela fugir. Por
mais que ela tente escapar, por mais que ela corra velozmente, um dia Deus a
destruirá!
“Estas três coisas me maravilham;
e quatro há que não conheço: O caminho da águia no ar; o caminho da cobra na penha; o caminho do navio no
meio do mar; e o caminho do homem com uma virgem.” Provérbios 30:18,19
Todas as formas de se locomover da serpente exige o ato de se rastejar,
por não ter membros para locomoção. Essa maneira é geralmente utilizada com o
termo figurado para manter-se em nível inferior, se humilhar, se submeter. Era
assim que a ‘Serpente’ que enganou a mulher com seu veneno de mentira passaria
a viver: humilhada.
“Quem abrir uma cova, nela cairá,
e quem romper um muro, uma cobra o
morderá. Aquele que transporta pedras, será maltratado por elas, e o que racha
lenha expõe-se ao perigo. Se estiver embotado o ferro, e não se afiar o corte,
então se deve redobrar a força; mas a sabedoria é excelente para dirigir.
Seguramente a serpente morderá antes
de estar encantada, e o falador não é melhor.” Eclesiastes 10:8-11
A mulher não deveria ter ido se ‘consultar’ com a ‘Serpente’. Foi
picada porque se relacionou com quem não deveria.
“O lobo e o cordeiro se apascentarão
juntos, e o leão comerá palha como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum
em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” Isaías 65:25
Temos, portanto, 16 vezes o termo nahash sendo utilizado no sentido comparativo,
contando com Gênesis 3, e 14 vezes sendo utilizado no sentido literal, lembrando
que mesmo quando há literalidade, tiramos grandes aplicações para nossa vida
espiritual.
Todos os textos estão ligados à Gênesis 3 porque os demais escritores da
Bíblia se debruçavam nos livros de Moisés para conhecer ao Senhor e ampliarem o
cenário profético.
7 - Quando Moisés, o narrador,
não explica que ‘serpente’ não era um animal, mas o iguala a um, será que as
pessoas de sua época entenderam?
Quando Moisés escreveu a Torah (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio) por ordem e inspiração divina (Êxodo 17:14; 34:27,28; Números
33:2; Deuteronômio 31:19), seu público era um povo que teve contato direto com
os egípcios por um total de 430 anos (Êxodo 12:40.41). Tanto Moisés, como os
outros israelitas que atravessaram o Mar Vermelho para fugir de Faraó na
madrugada após a Páscoa, nasceram, cresceram e aprenderam a cultura egípcia.
Atos 9:21,22 nos diz que “Moisés foi criado como filho da filha de
Faraó e foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e
obras.” Além disso, na noite da fuga, muitos egípcios deixaram sua pátria para
seguir os israelitas (Êxodo 12:38).
O que os egípcios, ou os israelitas criados no Egito, entenderam ao
ouvir e ler o relato de Gênesis 3? Será que eles absorveram a ideia de que um
animal falou com a primeira mulher, ou sabia que a serpente ali tinha um
significado puramente simbólico?
Antes de responder esses questionamentos, observe as imagens abaixo
resultantes de pesquisas arqueológicas. O que você percebe em comum entre elas?
Se você percebeu que a serpente está presente em todas as imagens
acima, acertou. Algumas imagens representam Rá, o deus sol (note o círculo
sobre a cabeça) e a maioria representa Hórus, o deus falcão, que, na mitologia
egípcia, em dado momento perderam um de seus olhos e, para substitui-lo, a
serpente uraeus foi inserida em suas mitras (coroas).
Além desta serpente, tanto Rá quanto Hórus tinham a proteção de outras:
Mehen era a serpente que, junto a Seth, protegia o deus sol Rá quando ele
navegava pelo mundo das sombras todas as noites. Já Hórus, filho do deus Osíris
com a deusa Ísis, foi protegido desde pequeno pela serpente Wadjit, na luta
contra Seth.
Note que, na primeira imagem, Rá possui uma serpente na cabeça, em
volta do disco solar, outra serpente que o envolve como uma cabine, e uma
terceira serpente que, junto a doze deuses, puxa a embarcação. Já na primeira
imagem da terceira coluna, Hórus possui uma serpente na cabeça, em volta do disco
solar, outra serpente na mão, como um cetro e, uma terceira serpente à sua
frente que cospe fogo para protegê-lo.
Além dessas, há muitas outras serpentes que aqui não mencionaremos,
aliadas ou inimigas de Rá, Hórus e outras divindades egípcias. Cada uma das
imagens abaixo são representações de falsos deuses que possuem o auxilio de uma
serpente uraeus. São eles o deus Áton, os touros Ápis e o Mnévis, as deusas
Hátor, Bastet, Sekmet e, na última imagem, a deusa serpente Meretseger:
O falso deus Áton, como podemos ver na primeira imagem acima, além de
outras representações, foi também identificado com uma serpente. Para os
egípcios em determinada época ele foi o deus criador. Provavelmente seu nome esteja
ligado à origem do nome da cobra Piton, encontrada na África, da tanyn, um nome
hebraico para cobra nos originais da Bíblia e nomes de outros deuses
mitológicos.
Tanto no Egito quanto em outras culturas antigas, a serpente era muito
valorizada.
Você sabia que em monumentos e na cabeça de vários Faraós, que se
consideravam substitutos dos deuses Rá e Hórus, também foi encontrada a
serpente uraeus? Enquanto muitos Faraós consideravam-se a encarnação do deus
sol, a serpente em sua coroa representava a atuação da entidade que protege, dá
autoridade e sabedoria.
Por este pequeno relato, dá para entender um pouco o quanto a serpente
era importante para os egípcios? Com isso, tiramos duas lições:
A primeira é que, assim como a entidade não dependia da escultura,
pintura ou o animal em si, pois só estava representada neles, assim também a
‘serpente’ de Gênesis três que falou com a mulher, não era um animal, mas uma
entidade. Era fácil para os egípcios e para os israelitas, que passaram tanto
tempo aprendendo a cultura egípcia, entenderem.
A segunda colocação importante é que a proposta da serpente na coroa de
Faraó era a mesma proposta da ‘serpente’ para o primeiro casal:
Proteção: - “Certamente não
morrereis!...” (alguns ensinam que a imagem da serpente que morde o próprio
rabo, formando um círculo, representa a eternidade).
Autoridade: - “... sereis
como Deus,...” (a divindade da liderança foi sempre a proposta da serpente,
desde o Egito até Roma).
Sabedoria: - “...se abrirão
os vossos olhos,... sabendo o bem e o mal.” (a própria serpente era quem
controlava a mente dos Faraós. Era o ‘terceiro olho’).
Sendo assim, Deus estava revelando para os israelitas através de Moisés
que a ‘serpente’ que promete ‘ampliar a visão’, nada mais é do que o pai da
mentira, o traidor, enganador, inimigo de todos os homens... Assim como a entidade
caracterizada na serpente enganou a mulher, havia também enganado o sacerdócio
egípcio, bem como o Faraó e toda a população da época que seguiam toda a quantidade
de deuses inventados.
Graças à ‘serpente’, os egípcios desprezaram o Criador de todas as
coisas, e se dobraram diante de todo o tipo de falso deus. É a própria serpente
que está por trás de todos os falsos deuses...
8 – A palavra hebraica ‘serpente’
tem mais de um significado?
Falamos no tópico anterior que a entidade representada na serpente está
por trás de toda idolatria e feitiçaria egípcia, mas isso tem alguma
confirmação bíblica clara?
Para provar isso, vamos estudar aqui a semântica da palavra original
para serpente:
O termo hebraico para serpente em Gênesis capítulo três é Nahash [נחש].
Esta palavra aparece 47 vezes no Tanach (chamado Antigo Testamento) e tem mais
de um significado. Vejamos:
1º - Serpente: Gênesis 3:1,4,13,14; 49:17; Êxodo 4:3; 7:15;
Números 21:6,7,9; Deuteronômio 8:15; II Reis 18:4; Jó 26:13; Salmos 58:4;
140:3; Provérbios 23:32; 30:19; Eclesiastes 10:8,11; Isaías 14:29; 27:1; 65:25;
Jeremias 8:17; 46:22; Amós 5:19; 9:3; Miquéias 7:17
Falamos sobre a visão da Bíblia com relação à serpente em cada um destes
versículos em um tópico anterior.
2º - Adivinho, adivinhação, encantador, encantamento, agoureiro, agouro,
observador de presságios, presságio: Gênesis 30:27; 44:5,15; Levítico
19:26; Números 23:23; 24:1; Deuteronômio 18:10; I Reis 20:33; II Reis 17:17;
21:6; II Crônicas 33:6
Isso mesmo! A mesma palavra para serpente é adivinho. Isso amplia ainda
mais nossa visão, pois Moisés poderia ter utilizado outras palavras hebraicas
para serpente, mas utilizou justamente a que tem a mesma designação para
adivinho. Ou seja, ao conversar com a serpente, é como se a mulher estivesse
numa sessão de consulta a entidades espirituais.
Assim como a serpente levou os egípcios para a feitiçaria, idolatria e
imoralidade, assim também a serpente levou a mulher para longe de Deus, para o
pecado, desobediência e idolatria. Sim! Idolatria pelo fato da mulher estar
recorrendo a entidades espirituais e também porque, a partir daí que Adam a
consagra como Eva, a mãe de todos, reverenciando a mãe do filho de Deus, ao invés
de reverenciar o filho de Deus que nasceria para ‘esmagar a cabeça da
serpente’, ou seja, derrota-la.
3º - Cobre (ou bronze): Daniel 2:32,35,39,45; 4:15,23; 5:4,23;
7:19
Qual a ligação de nahash com serpente, adivinhação e o cobre?
A serpente de bronze idolatrada pelos israelitas foi denominada Nahashthan
(Neustã), uma variação da palavra nahash tanto de ‘serpente’ como de ‘cobre’:
II Reis 18:4
Ou seja, mesmo algo que um dia Deus tenha criado para realizar o bem,
pode ser pervertido. Da mesma forma, seja quem for a entidade que levou o
primeiro casal à queda, um dia pode ter sido criado por Deus para ser uma
criatura boa, abençoadora, mas agora essa entidade estava em trevas, em pecado,
influenciando outros a se rebelarem contra o Criador...
Embora nahashth, outra variação da palavra hebraica nahash, apareça
119 vezes no Tanach, significando um dos metais utilizados na construção do
tabernáculo e do templo, ou o material que os reis inimigos utilizavam para
prender os reis de Israel, há uma citação em que nahashth nos chama a atenção:
“Assim diz o Senhor DEUS:
Porquanto se derramou o teu bronze, e se descobriu a tua nudez nas tuas
prostituições com os teus amantes, como também com todos os ídolos das tuas
abominações, e do sangue de teus filhos que lhes deste;” Ezequiel 16:36
Neste mesmo versículo que contém a palavra nahashth, Jerusalém é
comparada à prostituta cuja nudez foi exposta devido sua idolatria e os filhos
que morreram como oferenda. Há muitas semelhanças aqui com mulher de Gênesis 3.
A feitiçaria devido a amizade com a serpente, a nudez descoberta e a maldição
da morte que veio sobre todos os humanos por causa do pecado original.
Nada na Bíblia está ali sem motivo...
Referências da palavra
nahashth: Gênesis 4:22; Êxodo 25:3; 26:11,37; 27:2,3,4,6,10,11,17,18, 19;
30:18; 31:4; 35:5,16,24,32; 36:18,38; 38:2,3,4,5,6,8,10,11,17,19,20,29,30;
39:39; Levítico 6:28; Números 16:39; 21:9; 31:22; Deuteronômio 8:9; 28:23;
33:25; Josué 6:19,24; 22:8; Juízes 16:21; I Samuel 17:5,6,38; II Samuel 3:34;
8:8,10; 21:16; I Reis 4:13; 7:14,15,16,27,30,38,45,47; 8:64; 14:27; II Reis
16:14,15,17; 18:4; 25:7,13,14,16,17; I Crônicas 15:19; 18:8,10; 22:3,14,16;
29:2,7; II Crônicas 1:5,6; 2:7,14; 4:1,9,16,18; 6:13; 7:7; 12:10; 24:12; 33:11;
36:6; Esdras 8:27; Salmos 107:16; Isaías 60:17; Jeremias 1:18; 6:28; 15:12,20;
39:7; 52:11,17,18,20,22; Lamentações 3:7; Ezequiel 1:7; 9:2; 16:36; 22:18,20;
24:11; 27:13; 40:3; Daniel 10:6; Zacarias 6:1.
4º - Nome próprio: Dois homens na Bíblia são chamados de Nahash:
Um deles é o ancestral de Joabe, capitão do exército de David: II
Samuel 17:25,27.
Porém, ao compararmos
com Êxodo 6:23; Números 1:7; 2:3; 7:12,17; 10:14; Rute 4:20; I Crônicas 2:10,11,
encontramos Nahashon (Naassom), que foi considerado o príncipe dos filhos de
Judá. Este foi, portanto, um ancestral comum entre Joabe e David.
O outro é um rei amonita (I Samuel 11:1-11; 12:12; II Samuel 10:1,2; I
Crônicas 19:1,2), traduzido em nossas Bíblias como Naás, que propôs aos
israelitas de Jabes, quando esses estavam dispostos a se renderem: “Farei
aliança convosco sob a condição de vos serem vazados os olhos direitos,
trazendo assim eu vergonha sobre todo o Israel.”
Assim como a serpente na mitologia egípcia substituiu o olho perdido do
falso deus Rá e Hórus, para propor aos Faraós que ela fosse o seu terceiro
olho, assim também Nahash quer fazer aliança com Israel com a condição deles
perderem um de seus olhos...
É isso! Ao invés de ampliar nossa visão, o inimigo quer, pelo
contrário, nos cegar...
Graças a Deus, Saul foi usado para salvar os homens de Jabes...
Aqui aprendo mais um detalhe: os egípcios, ao invés de ter o terceiro
olho, na verdade, eles tem menos um olho, estão cegos!
“nos quais o deus deste século
cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” II Coríntios 4:4
Quando o rei amonita
morreu, dois episódios intrigantes aparecem logo em seguida: Davi adultera (II
Samuel 11; 12) e Davi é incitado por Satan a numerar Israel (I Crônicas 21).
Seria este outro sinal?
Nahash, um dia, pertenceu ao reino de Deus, mas um dia se tornou maligno, e
hoje é o tentador, que incita as pessoas a pecarem? Nahash seria o próprio
Satan? É o que vamos comprovar mais a frente...
OBS.: O nome de uma mulher
também tem relação com nahash. Seu nome é nahashtha (Neústa), a mãe do rei
Yaquim, que fez o que era mau aos olhos do Senhor e foi levado em cativeiro
para a Babilônia, por Nabucodonosor: II Reis 24:8.
Há várias palavras hebraicas para serpente no Tanach, porém justamente
o que tem relação com a adivinhação e a confecção de ídolos é que Moisés
utilizou para registrar Gênesis 3:
* Tanynim [תנינם]
– Gênesis 1:21 (traduzido em algumas versões como monstros marinhos, grandes
animais aquáticos e até por grandes baleias).
* Nahash [נחש]
– Gênesis 3:1 (a serpente que tentou a mulher).
* Seraf [שרפ] – Números 21:8 (ardente, peçonhenta, venenosa)
* Zaraly [זחלי] – Deuteronômio 32:24 (rastejante)
*Akshuwb [עכשוב] – Salmo 140:3 (áspide)
* Pethen [פתן] – Deuteronômio 32:33; Jó 20:14,16; Salmo 58:4;
91:13; Isaías 11:8 (víbora. Piton)
Concluindo este tópico,
nahash pode significar mais do que uma serpente e a primeira mulher não foi
enganada por um animal literalmente falando...
9 - Se realmente a ‘serpente’
fosse um animal, esse bicho viveu o suficiente para que o filho prometido da
mulher pisasse em sua cabeça?
Até aqui provamos de diversas formas que só há sentido lógico se a
nahash de Gênesis 3 for um ser pessoal, e não apenas um bicho. Neste tópico, vamos
continuar com o mesmo raciocínio, analisando o juízo sobre a serpente. Vejamos:
“Então o Senhor Deus disse à
serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais
que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos
os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Gênesis 3:14-15
Porquanto fizeste isto...
Se a serpente só foi usada por Satan, como muitos dizem, então ela não
merecia esse juízo. Seja quem está recebendo este juízo, é porque foi culpado
pela mentira que enganou a mulher.
... maldita serás mais que toda a
fera, e mais que todos os animais do campo...
O juízo não diz que a nahash seria maldita mais do que todas as
outras feras, ou todos os outros animais do campo. O juízo diz que a
nahash seria maldita mais do que toda a fera e mais do que todos os
animais do campo. Ou seja, esta nahash não está inclusa entre os animais,
mas apenas é comparada aos animais. O tentador estaria numa posição inferior
aos animais.
... sobre o teu ventre andarás, e
pó comerás todos os dias da tua vida...
Deus se utiliza da metáfora da serpente, que a mulher inventou, para revelar
o juízo sobre o tentador. Assim como a serpente, rasteja, assim também o
tentador rastejaria, ou seja, seria humilhado. Como uma entidade espiritual que
um dia foi um dos serafins (ou querubins) seria humilhada abaixo dos animais? É
o que estamos perto de descobrir...
Veja nos versículos a seguir a humilhação (submissão / opressão) sendo
comparada ao ato de se rastejar:
“Por que escondes a tua face, e
te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão? Pois a nossa alma está
abatida até ao pó; o nosso ventre se apega à terra.” Salmos 44:24-25
“Nos seus dias florescerá o
justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a lua. Dominará de mar a mar,
e desde o rio até às extremidades da terra. Aqueles que habitam no deserto se
inclinarão ante ele, e os seus inimigos lamberão o pó.” Salmos 72:7-9
... porei inimizade entre ti e a
mulher...
Se Deus colocaria inimizade, o que havia antes? Amizade!
Sim! Gênesis 3 só revela o desfecho de um processo. Tempo suficiente
para as árvores crescerem e darem frutos, o que pode levar anos (Gênesis 2:5-17),
tempo suficiente para Adam dar nome aos animais, sentir falta de uma esposa e procurar
por ela (Gênesis 2:19,20), tempo suficiente para Adam e sua esposa terem filhos
(Gênesis 2:18-25), tempo suficiente para Adam ensinar à sua esposa a verdade,
porém ela não foi ensinada corretamente (Gênesis 3:16; 5:4). Porém, mesmo
depois de todo este tempo, a mulher não sabia dizer exatamente o que Deus havia
dito para Adam:
“E ordenou o Senhor Deus ao
homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela
comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2:16,17
“E disse a mulher à serpente: Do
fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio
do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não
morrais.” Gênesis 3:2-3
Deus não falou que não poderia tocar. Só por aí já vemos que a mulher
já tinha ouvido um discurso distorcido. Se analisarmos o original, na fala da
mulher ainda se encontra a palavra ‘talvez’ não morrais. A mulher conversou com
alguém, que não foi Deus...
... e entre a tua semente e a sua
semente...
A partir de agora os descendentes da mulher, e um descendente em
particular (o justo citado no Salmo 72:7-9), seria perseguido pela descendência
da serpente. Vemos a resposta para esta profecia já no próximo capítulo, quando
o mal Caim mata seu irmão Abel. A partir de então, os descendentes de Caim,
listados em Gênesis 4 desejam contaminar a descendência de Sete em Gênesis 5,
que buscam a Deus. A luta do reino das trevas contra o povo de Deus é uma
realidade até o futuro.
... esta te ferirá a cabeça, e tu
lhe ferirás o calcanhar...
Após a descendência da serpente viver por muito tempo perseguindo a
semente da mulher, esta um dia ferirá a cabeça da serpente. É assim que a
serpente morre, quando é atingida num golpe na cabeça. Da mesma forma, um dia,
a semente da mulher, ou melhor, o filho de Deus virá, de cima para baixo, e
destruirá o império da serpente...
Quando entendemos que Jesus é o cumpridor desta profecia, ou seja, o
único que pode resgatar de volta para Deus o homem pecador condenado à morte,
temos mais uma comprovação de que a serpente de Gênesis 3 não pode ser um
animal. Se fosse um animal, esse teria que ter sobrevivo 4 mil anos, até Jesus
nascer, para esmagar sua cabeça.
Já dá para saber com convicção quem é esta serpente? Caso não,
deixaremos no próximo e último tópico:
10 - Quem é a verdadeira
serpente de Gênesis 3:15 de acordo com o restante da Bíblia?
Se não foi um animal que
falou com a mulher, quem, então, falou com ela? O apóstolo João nos responde
com todas as palavras:
“E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo,
e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra,...” Apocalipse
12:9
Ou seja, o Diabo não usou uma serpente. Ele não incorporou numa
serpente. Ele era a própria serpente!
A palavra dragão (drakon, no grego) foi a tradução na Septuaginta,
primeira tradução da Bíblia, do hebraico para o grego, de Tanynim [תנינם] – Gênesis 1:21 (traduzido em
algumas versões como monstros marinhos, grandes animais aquáticos e até por
grandes baleias). Dragão aqui não tem nenhuma relação com os monstros dos
filmes e desenhos modernos.
A palavra serpente é a tradução de Nahash
[נחש]
– Gênesis 3:1 (a serpente que tentou a mulher).
Para provar que tanto dragão quanto serpente são apenas dois nomes
diferentes para o mesmo animal, veja:
- Em outros livros da Bíblia, são traduzidos como serpente tanto o
tanyn (Deuteronômio 32:33; Salmos 91:13) quanto a nahash (Números 21:9; Jó
26:13; Eclesiastes 10:11).
- Na transformação da vara de Moisés em serpente, tanto aparece a
palavra tanyn (Êxodo 7:9), quanto a palavra nahash (Êxodo 4:3).
- Em Isaías os dois nomes também estão associados:
“Naquele dia o SENHOR castigará
com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, serpente veloz, e o leviatã,
a serpente tortuosa, e matará o dragão, que está no mar.” Isaías 27:1
Para localizar onde estão as palavras hebraicas, vamos mostrar o
original:
“Naquele dia o SENHOR castigará
com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, nahash veloz, e o leviatã, a nahash
tortuosa, e matará o tanyn, que está
no mar.” Isaías 27:1
Para quem tem alguma dúvida que foi o próprio Satan quem enganou a
mulher, leia esses versículos:
“Vós tendes por pai ao diabo, e
quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio,
e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere
mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” João
8:44
“Mas temo que, assim como a
serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte
corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.”
II Coríntios 11:3
“Quem comete o pecado é do diabo;
porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou:
para desfazer as obras do diabo.” I João 3:8
11 - Satan é capaz de incorporar
na cobra e dar poder de raciocínio e linguagem para ela?
Uma das explicações incorretas que ouvimos (e até já ensinamos por não
termos conhecimento) é a possibilidade de Satan ter se apossado de uma serpente
e ter falado através dela. Mas Satan tem este poder? Essa suposição teria base
bíblica?
No caso da mula que conversou com Balaão, para adverti-lo sobre sua má
intensão, em Números 22:28-30, é Deus quem está usando o animal, não Satan.
Lembremos que Deus tem todo o poder, mas Seu poder não seria usado como um
parceiro de Satan para levar o homem para o pecado.
No caso dos demônios que pediram permissão a Jesus para entrarem nos
porcos em Gadara, citado em Marcos 5:12-13, foi permitido para, em primeiro
lugar, libertar o endemoninhado e, além disso, punir os israelitas que estavam
criando porcos, contrariando a orientação divina (Levítico 11:7; Deuteronômio
14:8).
Tanto o caso da mula quanto o caso dos porcos são provas do amor de
Deus pelo homem. Não tem relação com Deus permitindo a serpente falar para
trazer pecado sobre toda a humanidade.
Enfim, aqui estão todas as análises que Deus nos permitiu fazer,
analisando, não só um texto, mas todo o contexto das Escrituras, de Gênesis a
Apocalipse, que a serpente não era uma serpente, mas a serpente foi utilizada,
de maneira simbólica, para revelar a derrota final de Satan.
Finalizamos com uma palavra de Jesus:
“O ladrão não vem senão a roubar,
a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.”
João 10:10
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