Introdução
No ‘Velho Testamento’ era o tempo da
Lei e agora vivemos o tempo da Graça? Jesus veio para abolir a Lei? Deus agia
de uma maneira e agora age de outra por ter percebido que não era legal a forma
que agia antes? Deus, afinal, mudou? Na época da Lei Deus só queria saber dos
judeus e agora aceita todo mundo? Sendo assim, não preciso seguir NADA do que
está escrito ali, só obedecendo as coisas que estão no ‘Novo Testamento’? Em
qual tempo é mais fácil viver?...
Bom, quem lê a Palavra, principalmente
as cartas de Paulo, de forma tendenciosa, ou mesmo sem a direção do Espírito
Santo, pode chegar a conclusões como estas ou até piores. Mas esse pensamento
tornou-se forte no passado e tem crescido hoje com outros propósitos:
Israel
x Os Gentios
1°
- Os israelitas consideraram-se superiores, porque, como escreveu o apóstolo
Paulo, “... dos quais é a adoção de
filhos, e a glória, e as alianças, e a lei, e o culto, e as promessas; Dos
quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne...” Romanos 9:4-5
Por causa da denominação “povo
exclusivo de Deus” (ver Êxodo 19:6; Deuteronômio 7:6; 14:2), consideraram que
só eles poderiam ser salvos, esquecendo-se que, na própria Escritura que eles
meditavam no templo e sinagogas, Deus sempre mostrou interesse em salvar toda a
humanidade.
Até porque, Abraão, o pai dos
israelitas, não era israelita, óbvio. O que falar sobre pessoas como Abel,
Enos, Enoque, Noé, o rei Melquisedeque, Jó, o sacerdote Jetro, Rute etc.? Todos
esses foram pessoas ilustres no que se refere ao temor e serviço ao Senhor,
porém nenhum desses era israelita. E o que dizer sobre o cuidado de Deus ao
enviar os profetas Jonas e Naum a Nínive e Obadias a Edom? E as bênçãos que
Deus deu a Naamã, a viúva de Sarepta e tantos outros gentios relatados no
Tanach?
Além disso, há inúmeras profecias
acerca das nações estrangeiras pelos livros dos profetas:
“E
os gentios verão a tua justiça, e todos os reis a tua glória; e chamar-te-ão
por um nome novo, que a boca do SENHOR designará.” Isaías 62:2
“E
naquele dia muitas nações se ajuntarão ao SENHOR, e serão o meu povo, e
habitarei no meio de ti e saberás que o SENHOR dos Exércitos me enviou a ti.”
Zacarias 2:11
(ver também Gênesis 12:3; 18:18;
22:18; 49:10; II Samuel 22:44,45; I Crônicas 16:24,31; Salmos 2:8; 18:43,44; 46:10;
47:8; 65:1; 67:4; 72:11; 86:9; 96:3; 102:15; 117:1; Isaías 2:4; 5:26; 11:10;
42:1,6; 43:4; 49:6,7; 51:4; 55:5; 60:3,12; 66:18,19; Jeremias 3:17; Ezequiel 36:23;
37:28; 38:23; 39:7,21; Daniel 7:14; Amós 9:12; Miquéias 4:2; Zacarias 8:22;
9:10; 14:16; Malaquias 1:11 etc.)
Em todo o chamado ‘Antigo Testamento’,
há muitas bênçãos e maldições para nações específicas, assim como para Israel.
Ou seja, Deus não é exclusivo. Na verdade, esse povo foi escolhido para ser um
canal da voz de Deus para o mundo.
Jacó, ao abençoar os filhos de José, Manassés
e Efraim, profetiza: “... ele será um povo, e
também ele será grande; contudo o seu irmão menor será maior que ele, e a sua
descendência será uma multidão de nações.” Gênesis 48:19
Nesta
profecia, já podemos ver que Efraim, futuramente representando todo o Reino do
Norte, as 10 tribos de Israel, não seria um simples povo, mas uma multidão de
nações, ou melhor, uma multidão de gentios. O que aconteceu exatamente, séculos
depois, quando a Assíria derrotou os israelitas e os espalhou pelas nações,
misturando-os entre os povos. Apenas o Reino do Sul, as outras 2 tribos, ou
chamados judeus, permaneceram com sua identidade...
2°
- A Igreja, tomada da mesma soberba de Israel, considerou-se a substituta desta
exclusividade e, para enfraquecer o valor de Israel, criou uma série de
conceitos, tais como:
-
Velho x Novo Testamento: Dividir as Sagradas Escrituras em Velho e Novo
Testamento, como se os primeiros 39 não fossem mais importantes utilizando
versículos como Mateus 26:28; Marcos 14:24; Lucas 22:20; I Coríntios 11:25; II
Coríntios 3:6,14; Hebreus 7:22; 9:15-20; 12:24; 13:20.
Mas, os 39 livros não são o ‘Velho’
Testamento. A ‘Antiga’ Aliança citada nos textos acima é a aliança feita no
Sinai, após Israel sair do Egito, anulada dias depois por causa da adoração ao
bezerro de ouro e a quebra das tábuas por Moisés.
“Não segundo a aliança que fiz com seus pais No dia em que os tomei pela
mão, para os tirar da terra do Egito; Como não permaneceram naquela minha
aliança, Eu para eles não atentei, diz o Senhor.” Hebreus 8:9
Já a
‘Nova’ Aliança é a firmada através de Abraão, na verdade, anterior à aliança
feita através de Moisés, mas confirmada por Jesus na cruz do Calvário:
“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E
às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua
descendência, que é Cristo. Mas digo isto: Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus
em Cristo, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a
invalida, de forma a abolir a promessa.” Gálatas 3:16,17
Sendo assim, não é uma aliança (ou
testamento) nova, no sentido de nunca ter sido feita anteriormente, mas nova no
sentido de ser renovada, regenerada, reformada, moderna, que teve pouco uso
etc. Deus prometera trazer a eles uma nova aliança, conforme profetizado:
““Estão
chegando os dias”, declara o Senhor, “quando farei uma nova aliança com a
comunidade de Israel e com a comunidade de Judá.” Jeremias 31:31
As alianças feitas com Adam (Oséias
6:7), Noé (Gênesis 9:8-17), Abraão (Gênesis 15:9-18), Moisés (Êxodo 31:12-18) e
Davi (II Samuel 7) seriam confirmadas e avivadas por Jesus Cristo.
-
A Igreja x Israel: Excluir Israel da salvação, alegando que, por eles terem
rejeitado o Messias, estão descartados das promessas de bênção.
Considerando-se o ‘Israel de Deus’
(Gálatas 6:16), a petulância foi tão grande por parte da igreja corrompida que
resolveu tomar a herança que Deus concedeu aos hebreus: seu território e,
principalmente, sua capital, Jerusalém, iniciando um sangrento período chamado Cruzadas,
que causou a morte de milhares de judeus, árabes e até mesmo dos pseudo
cristãos que, incentivados pelo Papa, saíram à guerra ou foram saqueados pelos
guerreiros.
Não bastasse tomar sua morada, o catolicismo
obrigou vários israelitas a se converterem ao ‘cristianismo’, e quem não
aceitava, morria. Quem lamenta o terrorismo hoje por parte dos árabes não têm
ideia das atrocidades dos que, se dizendo seguidores de Cristo, fizeram contra
pessoas inocentes para impor sua maligna interpretação do chamado ‘Novo
Testamento’, em expressões como, por exemplo, “força-os a entrar”, de Lucas 14:23.
Parece que eles nunca leram o que o
apóstolo Paulo disse:
“Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque
também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. Deus
não rejeitou o seu povo, que antes conheceu... Porque não quero, irmãos, que ignoreis
este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio
em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim
todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E
desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu
tirar os seus pecados... Porque os dons e a vocação de Deus são sem
arrependimento.” Romanos 11:1,2,25-27,29
A Palavra de Deus menciona três povos:
“Não se tornem motivo de tropeço, nem
para judeus, nem para gregos, nem para a igreja de Deus.” I Coríntios 10:32
Deus, em primeiro lugar, tem um propósito
com os Gentios (Gênesis 1:28;
9:1,7-17), depois com Israel e, por último,
chamou a Igreja. Mas, como na
parábola dos trabalhadores na vinha (Mateus 20:1-16), os últimos a começarem o
trabalho serão os primeiros a receberem o galardão. Depois Israel, por último,
os Gentios. No tempo da Graça Deus tem salvo a Igreja, no tempo da Grande
Tribulação Deus salvará Israel e no Milênio Deus reinará sobre os gentios.
“E
este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as
nações, e então virá o fim.” Mateus 24:14 (ver Mateus 12:18; 28:19)
Um erro que se comete, portanto, é
considerar promessas e orientações feitas a Israel literalmente para a Igreja.
O que Deus determinou para eles, é para eles. Comumente vemos por aí pregadores
tomando posse de promessas que não são para nós, tais como:
“E o SENHOR te porá por cabeça, e não por cauda...”
Deuteronômio 28:13
“O SENHOR entregará, feridos diante de ti, os teus inimigos, que se
levantarem contra ti ...” Deuteronômio 28:7
O que difere, e muito, das palavras de
Jesus para quem quer ser seu discípulo:
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” Mateus
5:4
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque
deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e
perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim
perseguiram os profetas que foram antes de vós.” Mateus 5:10-12
Com isso,
não estou afirmando que devemos desconsiderar o chamado Antigo Testamento, mas,
analisar cada texto a fim de entender, seja nos 39 primeiros livros, ou mesmo
nos 27 últimos livros da Escrituras, se o texto está servindo literalmente para
nós, ou não.
É claro
que todas as Escrituras são proveitosas e trazem lições para nós, mas há textos
que são apenas para tirarmos aprendizados ao observarmos o sentido figurado:
“Porque tudo o que dantes foi escrito, para
nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras
tenhamos esperança.” Romanos 15:4
“E estas coisas foram-nos feitas em figura,... Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão
escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos.” I
Coríntios 10:6,11
-
Lei x Graça: Separaram o tempo entre Lei e Graça, para dizer que hoje temos uma
‘liberdade’ que os antigos não tinham.
Após esclarecer as nomenclaturas
tendenciosas de Velho e Novo Testamento, vamos a outra palavra muito usada, mas
também muito mal interpretada: a palavra ‘Lei’.
Esta palavra surgiu nas Escrituras
quando o Tanach (chamado Antigo Testamento) foi traduzido para o grego, pela chamada
Septuaginta. Todas as vezes que aparecia nas Escrituras originais a palavra
hebraica ‘Torah’ [תורת],
traduziram como ‘nomos’ [νομω]. Esta
última palavra realmente dá a ideia de mandamento, obrigação, mas a primeira
está bem além disso.
No livro de Provérbios, enquanto Musar
é a correção, disciplina, relacionado ao pai, Torah é o ensino, instrução, relacionado
a mãe. Mas, por que, enquanto, no livro de Salmos, por exemplo, todas as vezes
que aparece a palavra Torah foi traduzida por Lei (Salmo 1:2; 19:7; 37:31;
40:8; 50:16; 119:1,18,29,34,39,44,51,53,55,61,70,72,77,85,92,97,109,113,136,137,142,
150,153,163,165,172,174; 148:6 etc.), e, no livro de Provérbios, foi traduzida
por Instrução (Provérbios 1:8; 6:20 etc.)?
Vemos aí outra nomenclatura utilizada
para rejeitar as Escrituras Sagradas.
Primeiro porque a palavra Lei em si já
lembra uma obrigação, imposição contra a vontade, rigor, punição etc. quando,
na verdade, Deus nunca quis fazer do homem Seu escravo, alguém que lhe
obedecesse só para satisfazer Suas vontades, mas o criou como um ser livre,
podendo escolher o bem ou o mal, recebendo, em si mesmo, as consequências de
seus atos. O que Deus sempre fez foi aconselhar o homem ao melhor caminho a
seguir, pensando em seu bem.
Segundo, porque lendo as cartas do
apóstolo Paulo, que cita muitas vezes esta palavra, realmente dá a entender que
a vinda de Cristo tornou a dita ‘Lei’ obsoleta, nula, desnecessária.
Mas como conciliar esse entendimento
com o que está escrito nos versículos abaixo:
“Não cuideis
que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.”
Mateus 5:17
“Anulamos,
pois, a Lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a Lei.”
Romanos 3:31
“Por
conseguinte, a Lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom.” Romanos
7:12
“Porque
bem sabemos que a Lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à
escravidão do pecado.” Romanos 7:14
“É,
porventura, a Lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum!...” Gálatas
3:21
“De
maneira que a Lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que
fôssemos justificados por fé.” Gálatas 3:25
“Sabemos,
porém, que a Lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo,” I
Timóteo 1:8
Diante de textos como este, como podemos
olhar de forma tão crítica e condenatória os primeiros 39 livros das
Escrituras? Há algo de errado no entendimento daqueles que aboliram os
ensinamentos de Moisés e dos profetas.
Na verdade, quando os salmistas
exaltam a Lei, eles não estão falando dos 39 livros do chamado ‘Antigo
Testamento’, até porque na época dos salmistas, muitos desses livros ainda não
tinham sido escrito. A Lei que o Salmo 1 e o Salmo 119 exaltam, portanto, não é
outra coisa senão apenas os 05 primeiros livros das Escrituras, dados a Moisés
no deserto.
O que hoje é conhecido como ‘Antigo
Testamento’, os judeus chamam de Tanach, ou seja, a união da Torah (para nós, o
Pentateuco, ou a Lei de Moisés, ou a Instrução) + Nebhim (os Profetas) +
Kethubyim (Escrituras, ou Salmos, ou, para nós, os livros Poéticos).
“E disse-lhes: São estas as palavras que vos
disse estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos
Profetas, e nos Salmos. Então, abriu-lhes o entendimento para compreenderem
as Escrituras.” Lucas 24:44,45
Traduzir os 05 livros de Moisés por
Lei foi um grande erro dos eruditos que confeccionaram a Septuaginta, pois
apenas 20% da Torah, especificamente no livro de Levítico, é o que poderíamos,
de certa forma, chamar de lei.
Quando o apóstolo Paulo escreveu em
Gálatas 3:25 que “a Lei nos serviu de aio”
, seria o mesmo que dizer que a Torah nos serviu de Pedagogo, ou seja, aquele
que ensina, que instrui.
Além disso, separar o tempo entre
período da Lei e período da Graça é outro erro, pois, dessa forma, parece que
Deus mudou, e que homens como Abel, Isaque, Jó etc. não foram salvos, tendo em
vista que viviam ‘no tempo em que não existia a Graça de Deus’...
Mas como pode? Deus sempre agiu com
graça (Gênesis 6:8), pois, se não fosse a graça divina, o que seria de homens
como Abraão, Jacó, Isaque, Judá, Moisés, Arão, Davi, Isaías, Manassés etc.? E,
se hoje é mais fácil por estarmos no tempo da Graça, porque Deus matou Herodes,
Ananias e Safira, ameaçou as igrejas da Ásia, etc.?
Jesus
Aboliu a Torah?
Jesus disse: “Não
cuideis que vim destruir a Torah ou os Profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.”
Mateus 5:17
Cumprir, no grego, significa
“completar, encher, tornar pleno, de modo que se possa traduzir”. Jesus veio,
portanto, para ‘completar/ interpretar/ esclarecer’ corretamente a Torah.
Mais um texto tendencioso é o que o
apóstolo Paulo escreveu:
“Porque o fim da Lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.” Romanos 10:4
Apesar de muitos utilizarem esse
versículo para afirmar que Jesus acabou com o ‘Velho’ Testamento, na verdade,
aqui não é fim no sentido de acabar, terminar, mas sim, de ‘finalidade,
objetivo, razão, motivo, conclusão’ (telos,
no grego).
Jesus veio para completar: O ministério de Moisés;
A
interpretação da Torah;
A
rota para o Reino (o Descanso).
O que Jesus falava foi prescrito
(escrito antes) pelo Pai, ou seja, Ele não veio para contar novidades, mas
fixar a verdade:
“Porque
eu nãotenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem
prescrito o que dizer e o que anunciar.” João 12:49
Jesus afirma que seu ensino veio do
Pai, dado por Moisés:
“Respondeu-lhes
Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou. Se alguém quiser
fazer a vontade dEle, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se
eu falo ou por mim mesmo... Não vos deu Moisés a Torah?...” João 7:16-19
Deus
Não Muda
“...
o Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1:17
“Porque
os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.” Romanos 11:29
“Deus
não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa;
porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?”
Números 23:19
Tendo em vista que Deus não muda,
porque os livros dados a Moisés pelo Senhor falam de tantas coisas que hoje não
devem ser seguidas? Perguntas pairam na cabeça de todos os que leem os
primeiros livros das Escrituras, tais como: Por que Deus mandou sacrificar? Por
que Deus mandou os homens se circuncidarem? Hoje o dízimo é correto ou não tem
mais validade? Por que Deus mandou guerrear?
Tratemos primeiro dos sacrifícios:
Deus nunca quis matança de animais!
Essa afirmação parece quase impossível de ser aceita, lendo a Torah, mas
observem esses versículos:
“Porém
Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e
sacrifícios quanto em que se obedeça à sua Palavra? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.” I
Samuel 15:22
“Sacrifícios
e ofertas não quiseste; abriste os
meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres.” Salmo 40:6
“Pois
não te comprazes em sacrifícios; do
contrário, eu tos daria; e não te
agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito
quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.” Salmo
51:16,17
“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o SENHOR? Já estou farto dos holocaustos de
carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de
bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a
trazer ofertas vãs; o incenso é para mim
abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das
congregações; não posso suportar
iniquidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas de Lua Nova e as
vossas solenidades, a minha alma as
aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo que,
quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos;...” Isaías 1:11-15
"Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios." Jeremias 7:21-22
"Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Ajuntai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios, e comei carne. Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios." Jeremias 7:21-22
“Pois
misericórdia quero, e não
sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.” Oséias 6:6
“Aborreço, desprezo as vossas festas e com as vossas
assembleias solenes não tenho nenhum prazer.
E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas
de vossos animais cevados. Afasta de mim
o estrépito dos teus cânticos porque não ouvirei as melodias das tuas liras.”
Amós 5:21-23
“Com
o que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei
perante Ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de
milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito
pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma?”
Miquéias 6:6,7
Em nenhum desses textos está se
referindo à sacrifícios oferecidos de qualquer maneira, como em Malaquias
1:7,8. Os versículos acima estão falando da rejeição de Deus dos sacrifícios em
si, não por causa do tipo de oferta, mas por causa do caráter dos ofertantes.
Estaria Deus entrando em contradições?
Lemos em Levítico, por exemplo, várias recomendações sobre o que, como e quando
deveriam ocorrer sacrifícios. Na verdade, muito acima de uma oferta, o que Deus
está interessado é com aquele que oferece algo para Ele. Um exemplo claro disso
na Torah é o caso de Caim e Abel. Os dois ofereceram uma oferta ao Senhor, mas
antes de se atentar para a oferta, Deus se atentou para a vida deles,
rejeitando a Caim e aceitando a vida de Abel (Gênesis 4:3-6). O Senhor disse à
Caim: “Se procederes bem, não é certo que
serás aceito?...” Gênesis 4:7a
Se é desta forma, porque Deus então
instituiu para Israel os sacrifícios que Moisés detalha? Analise isso: Quem
pediu a Caim (Gênesis 4:3), Abel (Gênesis 4:4), Noé (Gênesis 8:20), Jó (Jó 1:5),
Abrão (Gênesis 12:7,8; 13:18; 22:13), Isaque (Gênesis 26:25), Jacó (Gênesis
31:54; ) para eles ofertarem a Deus animais, vegetais ou ofertas de libação? Não foi Deus...
Quando Deus pede determinados animais
em sacrifício para Abrão, este já estava cansado de oferecer sacrifícios (Gênesis
15:9), assim como também Jó (Jó 42:8-11) e Jacó (Gênesis 35:1,3,7). Sendo
assim, em cada um desses casos, Deus estava querendo ensinar algo para estes
homens, utilizando-se do que eles já faziam. Da mesma forma ocorre com os
animais citados em Levítico. Vejamos:
“Chamou
o Senhor a Moisés e, da tenda da congregação, lhe disse: Fala aos filhos de
Israel e dize-lhes: Quando algum de vós trouxer oferta ao Senhor, trareis a
vossa oferta de...” Levítico 1:1,2a
Aqui, Deus não está pedindo que o povo
traga ofertas, mas diz: ‘quando vocês trouxerem, tragam da seguinte forma...’
ou seja, Deus não instituiu os sacrifícios, mas os regulamentou, organizou, a
fim de que a forma de sacrificar, em todos os detalhes apontasse para o que Ele
queria ensinar o povo: a obra de Jesus no Calvário.
De alguma forma, Samuel, Davi, Isaías,
Oséias, Amós e Miquéias entenderam que Deus nunca se importou com a matança de
animais, mas usou do que as pessoas já faziam para ensiná-las, atraí-las para
Ele.
Deus nunca se importou com sacrifícios
tanto que, caso a pessoa não tivesse condições de ofertar ovelhas, bois ou
bodes (Levítico 1:1-13), poderia oferecer rolas e pombas (Levítico 1:14; 5:7;
12:8; 14:22,30; Números 6:10; Lucas 2:24) e, se não tivesse condições desses,
poderia ofertar vegetais (Levítico 5:11; 14:21), sempre com um derramamento, ou
de sangue ou de azeite. A maior preocupação de Deus, se assim podemos dizer,
acima de matança de animais, era o arrependimento, a conversão humana e o
reconhecimento da necessidade de um substituto, ou seja, Deus, como justo que é
teria de punir nossos pecados, mesmo que fosse por alguém que, voluntariamente,
se ofereceria em nosso lugar...
Sendo assim, a morte de Jesus aboliu
os rituais? O que dizer sobre o batismo, a ceia, as ofertas em dinheiro e os
momentos de jejum, oração e cânticos presentes desde a Igreja do tempo dos
apóstolos? Não seriam esses também rituais? Ao sermos imersos nas águas
batismais ou partirmos e comermos o pão e o suco de uva no dia da santa ceia,
qual deve ser nosso sentimento nesses momentos? O que é mais importante? Os
rituais ou a vida de quem pratica esses rituais?
O templo um dia será reerguido e os
sacrifícios e demais rituais retornarão, como promete Ezequiel 40 – 47; Salmo 51:19;
Zacarias 14:16-21; Malaquias 3:1-4. Mas, para que? A Igreja vive num período
sem templo (este foi destruído no ano 70 d.C.), mas, quando Israel se reconciliar
com Deus, o templo será reerguido e a matança de animais voltará a acontecer.
Mas para que, tendo em vista que sacrifícios de animais não salvam ninguém?
“porque é impossível que o
sangue de touros e de bodes remova pecados.” Hebreus 10:4
Os sacrifícios no templo restaurado
será uma forma pedagógica, assim como no passado, para que os homens do milênio
entendam a importância do sacrifício de Jesus. Um dia, quando não houver mais
necessidade alguma de figuras, parábolas, o Tabernáculo de Davi será reerguido,
e este difere do de Moisés, pois ali só há a arca da aliança e os adoradores em
volta (II Samuel 6:17; I Crônicas 16:1-6; Amós 9:11; Atos 15:16,17; Apocalipse
21:3.
“...
se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à
consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto, os
quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e
bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma.”
Hebreus 9:9,10
Enfim, Deus não está preocupado com a
circuncisão física, e o próprio Moisés já entendia isso:
“Circuncidai,
pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.” Deuteronômio
10:16
As 06 festas anuais e o sábado eram
datas específicas também apontando para algo muito superior também com o
intuito do aprendizado de quem participava: “Naquele mesmo dia, contarás a teu filho, dizendo: É isto pelo que o
Senhor me fez, quando saí do Egito. E será como
sinal na tua mão e por memorial entre teus olhos;...” Êxodo 13:8,9a Há
aqui um parêntese: A Igreja continua celebrando a festa da Páscoa, no ato da
ceia, por ordenança de Jesus, mas não celebramos como a primeira Páscoa porque
ela era apenas um sinal, ou seja, apontava para algo muito maior. O sábado, da
mesma forma, também aponta para um período em que iremos desfrutar o descanso
(shabbat, sábado, repouso) que está reservado para nós.
Até a Festa dos Tabernáculos iremos celebrar
um dia (Zacarias 14:16). Jesus recusou celebrá-la quando aqui esteve entre nós
prometendo celebrá-la um dia (João 7:2,8).
Sendo assim, Jesus não aboliu o que
fora escrito pelos profetas, mas deu um sentido maior e preservou dali alguns
detalhes para a Igreja e reservou outras para o futuro Israel salvo.
Uma das coisas que Jesus reafirmou,
embora alguns não reconheçam isso atualmente, foi o dízimo.
“Ai
de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dais o dízimo da hortelã, do
endro e do cominho e desprezais o mais importante da Torah, o juízo, a
misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer essas coisas e não omitir aquelas.”
Mateus 23:23
Diferente dos sacrifícios de animais,
o dízimo foi confirmado por Jesus, ao explicar para os hipócritas religiosos
que eles deveriam continuar dizimando dos seus ganhos, porém passar a fazer
mais do que dizimar, ajudando os necessitados que estivessem diante dele.
Daí surge uma dúvida: Então, por que os
apóstolos não dão ênfase ao dízimo? Essa resposta é simples de responder: a
Igreja não apenas dizimava. Os crentes da época dos apóstolos davam tudo o que
tinham.
“Vendiam suas propriedades e fazendas
e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade.” Atos 2:45
“E
era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa
alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns...
Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam
herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o
depositavam aos pés dos apóstolos. E, repartia-se a cada um, segundo a
necessidade que cada um tinha.” Atos 4:32,34,35
Enfim, o dízimo não é coisa do tempo
da “Lei”, até porque Abrão e Jacó decidiram ser dizimistas antes da “Lei”, ou
melhor, antes de Moisés escrever a Torah.
Não vemos em nenhum momento alguma
palavra contra os dízimos no chamado Novo Testamento. Portanto, quem quer se
ver livre dos dízimos hoje, deveria ter dado TUDO e não estamos falando de
linguagem figurada...
É mais fácil negar-se a si mesmo ou
oferecer um animal toda vez que pecar?
É mais fácil não cair em adultério,
pela fornicação, ou resistir a uma olhada que, para Jesus, é como o próprio ato
de adultério?
Enquanto o Tanach tem pouco mais de
300 conselhos (o que a tradição considerou como leis, ou mandamentos), o
chamado Novo Testamento possui mais de 1.000.
Finalizando, qualquer tentativa de
desprezar os 39 primeiros livros das Sagradas Escrituras, faz de nós limitados
no que tange ao entendimento da obra e da vontade de Deus. A diferença não está
no que se faz, mas como se faz. Se Israel deveria cumprir normas por obediência
à autoridade divina, A Igreja faz muito mais do que o que foi pedido, por amor.
Quem ama faz mais e ainda com maior intensidade. Dá tudo, e não apenas 10%, porque
ama.
Ensina-nos a te amar, Senhor!!!
Compartilhado na Pousada Missionária durante a Conferência À Luz da Bíblia
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