O menino Daniel
Daniel era muito novo quando a Babilônia, atual Iraque, atacou sua terra e levou escravizados muitos jovens como ele. Em um só dia Daniel perdeu seus pais, sua família, seus líderes e professores, o santuário, sua terra natal, sua casa, seus sonhos de vida e de uma futura família, sua herança.
“No ano terceiro do reinado de Jeoiaquim, rei de Judá, veio
Nabucodonosor, rei de babilônia, a Jerusalém, e a sitiou. E o Senhor entregou
nas suas mãos a Jeoiaquim, rei de Judá, e uma parte dos utensílios da casa de
Deus, e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os
utensílios na casa do tesouro do seu deus. E disse o rei a Aspenaz, chefe dos
seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e
dos príncipes, jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e
instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no
conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e
que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus.” Daniel 1:1-4
“Os quais Nabucodonosor, rei de babilônia, não levou, quando
transportou de Jerusalém para Babilônia a Jeconias, filho de Jeoiaquim, rei de
Judá, como também a todos os nobres de Judá e de Jerusalém;” Jeremias 27:20
Não sabemos quantos anos Daniel tinha quando foi levado cativo. As Escrituras
nos relatam que ele era ainda novo, de forma que pudesse aprender a cultura e
conhecimento de Babilônia, e ele era rico (nobre), e trabalharia como escravo e
eunuco servindo ao rei em seu palácio.
Daniel e sua obediência a Deus
Fico pensando o que poderia vir à mente de Daniel aqueles dias...
Todos os projetos de vida que fora estabelecido para ele foram
frustrados em um só dia. Poderia ter pensamentos de medo, raiva, decepção,
incertezas, solidão, saudades, tristeza, ansiedade... angústia!
Talvez outros meninos, em seu lugar, se revoltariam. Rebelar-se-iam
contra Deus. Pensariam em fazer o que “lhe desse na telha”, já que agora está
longe da visão de seus pais e sacerdotes. Mas Daniel não era um menino
qualquer. Ele tomou a melhor decisão de sua vida: continuar servindo a Deus!
“E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do
vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim
destes pudessem estar diante do rei. E entre eles se achavam, dos filhos de
Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias; E o chefe dos eunucos lhes pôs outros
nomes, a saber: a Daniel pôs o de Beltessazar, e a Hananias o de Sadraque, e a
Misael o de Mesaque, e a Azarias o de Abednego. E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das
iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos
eunucos que lhe permitisse não se contaminar.” Daniel 1:5-8
O mesmo Deus que Daniel aprendeu a adorar em Jerusalém, é o Deus que
também o via em Babilônia. Ele poderia estar longe dos olhos de seus pais, de
seus líderes, dos sacerdotes, mas não estava longe dos olhos de Deus. E os três
próximos anos de estudos intensos e muita dedicação a Deus e aos homens, tornou
Daniel e seus amigos, judeus de destaque.
“Quanto a estes quatro jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a
inteligência em todas as letras, e sabedoria; mas a Daniel deu entendimento em
toda a visão e sonhos. E ao fim dos dias, em que o rei tinha falado que os
trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe diante de Nabucodonosor. E o rei
falou com eles; entre todos eles não foram achados outros tais como Daniel,
Hananias, Misael e Azarias; portanto ficaram assistindo diante do rei. E em
toda a matéria de sabedoria e de discernimento, sobre o que o rei lhes
perguntou, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos astrólogos que
havia em todo o seu reino. E Daniel permaneceu até ao primeiro ano do rei Ciro.”
Daniel 1:17-21
É maravilhoso quando temos em quem nos espelhar. Amo a história de
Daniel porque ela me desafia a ser melhor. Induz-me a dedicar-me em todas as
áreas da vida, estudos, trabalho etc. Mas, em primeiro lugar, a servir a Deus,
nas melhores e nas piores circunstâncias.
A passagem acima diz que “Daniel permaneceu até ao primeiro ano do rei
Ciro”. Ou seja, foram setenta anos de dedicação a Deus e aos homens, com
constância, com perseverança. Daniel não apenas serviu a Deus nos momentos
bons. Ele passou dias de glória e de vergonha, mas não se desviou do seu
propósito de amar e buscar ao Senhor.
Daniel, o amigo querido de Deus
“Daniel, pois, quando soube que o edito estava assinado, entrou em sua
casa (ora havia no seu quarto janelas abertas do lado de Jerusalém), e três
vezes no dia se punha de joelhos, e orava, e dava graças diante do seu Deus,
como também antes costumava fazer... Então responderam ao rei, dizendo-lhe: Daniel,
que é dos filhos dos cativos de Judá, não tem feito caso de ti, ó rei, nem do
edito que assinaste, antes três vezes por dia faz a sua oração.” Daniel 6:10,13
Daniel orava três vezes ao dia voltado para Jerusalém. Seu sonho sempre
foi ver sua terra natal, Jerusalém, restaurada. Mesmo após sua velhice, ele não
parou de orar. E ele se dedicava à oração, não por ser uma pessoa desocupada,
pois tinha muitos compromissos reais. A tal ponto que, mesmo depois que
Babilônia foi vencida, o novo reino da Pérsia, confiou a Daniel novamente cargo
de confiança. Mas não era só os olhos dos homens que chamavam atenção de
Daniel.
A oração de Daniel não era egoísta. Ele não pedia coisas para si mesmo. Ele era um intercessor e alcançou pela oração intimidade com Deus.
Deus o amava, como seu querido amigo!
“Estando eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o
pecado do meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a face do Senhor,
meu Deus, pelo monte santo do meu Deus, estando eu, digo, ainda falando na
oração, o homem Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao princípio, veio,
voando rapidamente, e tocou-me, à hora do sacrifício da tarde. Ele me instruiu,
e falou comigo, dizendo: Daniel, agora saí para fazer-te entender o sentido. No
princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a
palavra, e entende a visão.” Daniel 9:20-23
“E me disse: Daniel, homem muito
amado, entende as palavras que vou te dizer, e levanta-te sobre os teus
pés, porque a ti sou enviado...” Daniel 10:11
Imagina você orar muito por uma pessoa, ou por uma causa, mas, conforme
os anos se passam, você não percebe mudanças para melhor. É um desafio
permanecer em oração, não é mesmo? Mas Daniel permaneceu em oração, mesmo
setenta anos depois. Seu sonho era ver sua terra restaurada e seu povo também
servindo a Deus.
Daniel sabia que a causa de toda sua história ter sido alterada foi o
pecado de Judá, o Reino do Sul. Jerusalém foi destruída por desprezar a Deus e
servir aos falsos deuses, cometendo todo tipo de abominação contra Deus e
contra o próximo.
Mas Daniel não nutria ódio contra os seus. Como vimos na passagem
acima, ele orava por seu povo. E seu desejo era ver a restauração de Israel.
A Pedra cortada e o Reino eterno
Depois de um tempo em Babilônia, Daniel foi usado por Deus para milagrosamente
revelar o sonho e a interpretação do sonho que Nabucodonosor tivera. Tenho
certeza que aquele sonho renovou as forças de Daniel, pois prometia que, após
se levantar quatro reinos mundiais sobre a terra, Deus iria estabelecer seu
Reino para sempre!
“Quando estavas olhando, uma pedra
[EVEN - אבן] foi cortada sem auxílio de mãos, feriu a estátua nos pés de ferro
e de barro e os esmiuçou. Então, foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o
bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como a palha das eiras no estio,
e o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios. Mas a pedra [AVENA - אַבְנָא] que feriu a
estátua se tornou em grande montanha, que encheu toda a terra. Este é o sonho;
e também a sua interpretação diremos ao rei... Mas, nos dias destes reis, o
Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não
passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo
subsistirá para sempre, como viste que do monte foi cortada uma pedra [EVEN - אבן], sem auxílio de
mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro. O Grande
Deus fez saber ao rei o que há de ser futuramente. Certo é o sonho, e fiel, a
sua interpretação.” Daniel 2:34-36,44,45
O sonho com certeza foi um projeto de Deus para dar ainda mais destaque
ao seu servo Daniel em Babilônia, e também para mostrar o Seu poder e glória,
pois nenhum falso deus foi capaz de revelar aos feiticeiros, magos, astrólogos
etc. o sonho e sua interpretação.
Mas, além de tudo isso, um sonho foi gerado em Daniel: Babilônia vai
cair, outros três impérios virão, mas depois de tudo isso o Reino de Deus será
estabelecido! Maranata!
Assim que Daniel e os nobres de Judá foram levados como escravos,
alguns falsos profetas se levantaram para dizer que o cativeiro babilônico
duraria apenas dois anos (Jeremias 28:3,11). Mas outro homem de Deus da época
chamado Jeremias havia desmascarado aquela mentira e sentenciou os judeus a
setenta anos prisioneiros em Babilônia (II Crônicas 36:21; Jeremias 25:11,12;
29:10; Zacarias 1:12; 7:5).
As cartas do profeta Jeremias chegaram em Babilônia e, com certeza,
Daniel teve acesso a elas. Por mais que não visse mudanças aparentes, Daniel confiou
e esperou no Senhor todo este tempo, até que chegou o ano septuagésimo:
“No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o
número dos anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de
cumprir-se as desolações de Jerusalém, era de setenta anos.” Daniel 9:2 (ler Daniel 9:1-19)
Chegou o tempo em que Daniel tanto esperou. Cumpriram-se os setenta
anos e Daniel implora o favor do Senhor. Porém, de fato, uma parte das orações desse
amado irmão foi ouvida. Naquele ano os judeus foram libertos do cativeiro pelo
novo império que havia se levantado, a Pérsia, atual Irã. Mas, o anjo Gabriel
vem até o profeta Daniel esclarecer que ainda faltaria muito para que o pecado
do povo israelita fosse removido e sobre Jerusalém e o santuário fossem cheios
da glória de Deus!
Como Deus havia revelado antes, depois de Babilônia, se levantou a
Pérsia, mas ainda faltava se levantar mais dois impérios: o grego e o romano.
“Setenta semanas estão
determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a
transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer
a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. Sabe
e entende: desde a saída da ordem para
restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete
semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas
em tempos angustiosos. E depois das
sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o
povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim
será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as
assolações. E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da
semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá
o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado
sobre o assolador.” Daniel 9:24-27
Semanas aqui não se refere a sete dias. Nas Escrituras Sagradas, uma
semana equivale à sete anos:
“Cumpre a semana desta;
então te daremos também a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos comigo servires. E Jacó fez
assim, e cumpriu a semana de Lia; então lhe deu por mulher Raquel sua filha.” Gênesis
29:27,28
“Também contarás sete semanas de
anos, sete vezes sete anos; de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e
nove anos.” Levítico 25:8
Sendo assim, Daniel teria que fazer alguns cálculos. Naquele ano os
judeus voltariam para sua terra natal. Mas haveria um outro tempo a se iniciar.
Desde o ano em que os muros de Jerusalém começassem a ser reconstruídos
(o que relata o livro de Neemias), até ao Messias ser cortado, haveria sessenta
e nove semanas. Ou seja, 69 x 07 = 483 anos.
Sem contar mais uma semana que ocorrerá nos tempos do fim, para
completar as setenta semanas... Mas vamos deixar essa última semana para um
outro estudo...
Assim como a pedra do sonho de Nabucodonosor foi cortada, assim também
o Messias seria cortado:
“... uma pedra foi cortada,
sem auxílio de mão, a qual feriu a estátua nos pés de ferro e de barro, e os
esmiuçou...” Daniel 2:34
“E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias...” Daniel 9:26
Sendo assim, o Messias é comparado à Rocha, que precisaria ser cortado
para estabelecer o reino de Deus sobre a terra.
Daniel aprende a almejar a eternidade
Eis a questão: Daniel suportou e esperou setenta anos para ver seu povo
ser liberto, e viu. Mas ele não suportaria mais de quatrocentos anos para ver o
seu Rei e Messias.
Ele conseguiu ver a Babilônia cair e um novo reino se levantar, mas não
aguentaria ver todos os novos impérios que viriam.
Na “altura do campeonato” ele já estava com mais de oitenta anos, quem
sabe, já tinha ultrapassado os noventa.
Deve ter sido difícil para ele saber que morreria antes de ver o que
tanto pediu acontecer...
Mas o Deus que cumpriu a Sua promessa e libertou os judeus do cativeiro
babilônico através dos medo-persas, é poderoso para cumprir com as outras
promessas, no tempo certo, da forma certa.
A seguir, alguns anos se passam e Daniel está triste (Daniel 10:2,3).
Deus envia mais uma vez Gabriel para consolá-lo e fortalece-lo (Daniel 11:1) revelando
mais detalhes sobre como seriam os reinos que viriam sobre a terra.
Deus revelou ao seu amigo Daniel coisas extraordinárias! Detalhes que
ocorreriam desde os reis da Grécia, de Roma e o futuro rei que virá sobre o
mundo, ao qual as Escrituras chamam de Anticristo. Então, o anjo diz ao idoso
Daniel:
“E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida
eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os que forem sábios, pois,
resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a
justiça, como as estrelas sempre e eternamente... e jurou por aquele que vive eternamente ... Tu, porém, vai até ao
fim; porque descansarás, e te levantarás na tua herança, no fim dos dias.” Daniel
12:2,3,7,13
Aquele que vive eternamente, o El Olam, o Deus eterno, há de
ressuscitar seu amigo Daniel nos tempos do fim, e, ainda que ele tenha perdido
suas riquezas na juventude, havia uma herança reservada para ele! A sabedoria e
justiça de Daniel teria recompensa, até porque a nossa história não termina
aqui. Assim como Daniel soube governar os negócios dos caldeus e dos persas,
assim Deus tem reservado para ele uma glória ainda maior do que a dos reinos
desse mundo. Quem sabe Daniel será um dos que estará ao lado do Messias para
auxiliar na administrar do reino dos céus. Grande será a honra que virá de Deus
para ele. Como o fulgor do firmamento e como as estrelas sempre e eternamente!
Assim como Jesus ressuscitou e a pedra do sepulcro rolou, assim também Daniel há de ressuscitar!
Esse texto bíblico também se encaixa perfeitamente na vida de Daniel:
“Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas
vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram
estrangeiros e peregrinos na terra. Porque, os que isto dizem, claramente
mostram que buscam uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela de onde
haviam saído, teriam oportunidade de tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto
é, a celestial. Por isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu
Deus, porque já lhes preparou uma cidade.” Hebreus 11:13-16
Agora, Daniel não tinha mais esperança das coisas perecíveis. Ele tem
um sonho: ver o reino eterno sobre a terra e, como o anjo disse, ele precisava
perseverar até o fim dos seus dias aqui, pois a Rocha que do sonho de
Nabucodonosor exatamente 483 anos depois foi cortada, ferida, a fim de trazer
perdão, não apenas para os judeus, mas para todo o que nEle crer...
E assim como Deus cumpriu a primeira parte da profecia, em que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Ele cumprirá a segunda parte da profecia. Jesus virá estabelecer o Seu Reino sobre a terra.
O estudo continua...
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