13 agosto 2010

Famintos Não Apenas de Pão


Na primeira vez que fui evangelizar na Central do RJ com o pessoal da Vila Metral, no mês de maio de 2010, não tive muitas experiências específicas para contar, até porque foi um pouco rápido e não paramos muito para dialogar com os moradores de rua. Só entregávamos a quentinha e orávamos, quando eles deixavam.
Duas coisas me chamaram atenção: Todas as vezes que eu orava por um desabrigado, o mesmo chorava. Pude ver a carência deles. A outra coisa que me chamou atenção foi ver uma mulher que dormia embaixo de uma marquise com celular, e com créditos, ligando para outro morador. Neste ponto, ela estava melhor que eu... Sabe lá Deus onde ela conseguiu aquele aparelho e os créditos para ficar conversando com outros moradores e chamando para também vir pegar alimento.
Neste mesmo dia, fomos evangelizar numa praça/largo perto da Lapa. Isso me impactou, porque sempre trabalhei em lugares ali próximo, mas nunca tinha vista tantos jovens bonitos, aparentemente com saúde e bem vestidos se destruindo nas drogas, na bebida, na libertinagem etc. Meu coração doeu, ao mesmo tempo por estar no meio daquilo tudo e também por saber que muitos de meus amigos, conhecidos ou até mesmo parentes podem estar vivendo daquela maneia, nas garras do diabo e nós, Igreja, fazemos tão pouco para resgatar esses jovens.
Deu-me uma vontade imensa de arrancar todos dali, de abrir os olhos deles (pois era uma opressão terrível que senti naquele lugar), mas a maioria rejeitava os folhetos, zombava ou estavam tão drogados ou bêbados, que nem entendiam o que falávamos. Foi difícil.
Quem tive um pouco de liberdade para falar para dois casais que estavam juntos, aparentemente drogados, num canto desse largo que ficamos. Um dos casais, um chileno e uma oriental, não queriam muito ouvir. O chileno mencionou um cantor famoso que afirmou não existir Deus. Falei sobre o amor de Deus e a existência de Deus, ainda que o homem não acredite... O outro casal, brasileiros, queriam ouvir mais, mas o chileno não deixava muito.

Já na segunda vez que fui, agora em julho, estava mais a vontade com os irmãos e até mesmo com os moradores de rua. Podemos dar mais atenção à eles, dialogar e pregar melhor a Palavra.
O primeiro que conversei foi um senhor que veio de São Paulo conseguir emprego, mas não teve êxito aqui.
O segundo foi um ex-dirigente de congregação (“pastor”) que, segundo ele mesmo disse, deu brechas, errou e foi parar ali nas ruas. Este informou que teria como estar na casa de um irmão, mas parece que por problemas de relacionamento prefere estar na rua. Este disse que carrega uma bíblica com ele, tenta servir a Deus mesmo na rua, teme a Deus, mas sua cabeça era bombardeada o dia todo pelos outros mendigos com conversas sobre roubos, furtos, drogas etc. Os irmãos aconselharam ele a procurar um determinado local no Centro que ajuda esse tipo de pessoa.
Outro senhor que abordamos também morava com o irmão, porém também teve problemas no relacionamento. Preferia estar na rua do que voltar e pedir perdão ao irmão.
Numa praça, numa marquise, encontramos com umas 7 crianças, mais ou menos, que veio ao nosso encontro. Após entregarmos as quentinhas, os folhetos e orarmos, as crianças falaram que tem casa, que moram em Belford Roxo, porém só estavam ali para “venderem bala”. Não podemos acreditar em tudo que um morador de rua diz, pois na situação em que estão, podem inventar histórias, mentir sobre seus nomes e outras coisas mais, porque podem estar ali como fugitivos da polícia ou até mesmo de traficantes. Eu só vi uma delas com uma caixinha com algumas cartelas de chicletes dentro. À essa eu perguntei se ela ia à escola. Ela disse que sim e leu para mim a capa do folheto toda. Perguntei, e a mesma me disse que vai À EBD aos domingos numa igreja perto da sua casa. Pedi que ela me contasse alguma coisa que ela tinha aprendido. Ela me contou a história de Moisés com detalhes. Fiquei admirado por ver uma menina tão pequenininha relatando, com detalhes, o nascimento e primeiros fatos da vida de Moisés, relatado. Aproveitei para pregar um pouco para ela, dentro daquilo que ela tinha me falado.
Nesta mesma praça, abordamos alguns jovens que aparentemente estavam se drogando, pregamos e oramos por eles. Um deles estava tão drogado e possesso ao mesmo tempo que caiu na hora da oração. Sem entender como isso aconteceu, no momento que ele caiu, ele esbarrou no meu relógio e o mesmo se espatifou no chão. Foi estranho mesmo. Após a oração eu catei os pedaços e montei novamente. Alguns nessa praça receberam as quentinhas, mas recusaram oração.
A última pessoa que abordei foi o caso mais intenso. Acordei um senhor, oferecendo a quentinha. O mesmo se levantou com muita dificuldade, parecendo que estava com uma grave enfermidade no estômago ou pulmão, e se sentou. Me abaixei e começamos a conversar. Ele me contou que tinha sido uma pessoa de grande importância no exército brasileiro e na política. Foi presidente de um sindicato na parte rural e que tinha beneficiado muita gente. Alegou que tinha um grande conhecimento e que seu estado ali era passageiro e, futuramente, conseguiria dar a volta por cima. Daí começou a tentar me diminuir:
Questionou minha idade e alegou já estar com uma grande experiência nessa época. Questionou minha escolaridade e se espantou quando disse que era um pós-graduando, alegando que “geralmente, as pessoas que têm algum tipo de religião a rejeita quando entra na universidade.” Essa foi a deixa para eu começar a falar e não para mais. Falei sobre a soberania de Deus diante de todas as autoridades políticas e científicas e sobre a superioridade da Palavra de Deus diante de todos os livros que já li ou que existem no mundo. Falei para ele do amor de Deus e uma frase não saia mais da minha boca: “Deus te espera na eternidade!” Senti-me movido pelo Espírito à falar cada Palavra, senti amor por ele e alegria por servir à este maravilhoso Deus. Esse senhor ficou admirado e com certeza algo tocou seu coração.

A Bíblia diz:

“Bem-aventurado é aquele que considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal.” Salmos 41:1

“O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas honra-o aquele que se compadece do necessitado.” Provérbios 14:31

Ora, a que é verdadeiramente viúva e desamparada espera em Deus, e persevera de noite e de dia em súplicas e orações; mas a que vive em prazeres, embora viva, está morta.” I Timóteo 5:5,6

“Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desamparados? que vendo o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? ... e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares o aflito; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio dia. O Senhor te guiará continuamente, e te fartará até em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca falham.”
Isaías 58:7-11

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