Sinto-me
motivado a aqui deixar registrado um pouco do que tenho vivido com meus irmãos
nas visitar que fazemos ao Centro do Rio de Janeiro, para alcançar os moradores
de rua e demais pessoas que circulam ali pela madrugada.
Completará
no início do ano que vem 02 anos que tenho participado deste trabalho, mas
sempre, a cada mês, é uma experiência nova para mim e para os irmãos que ali
vão.
Por exemplo,
no dia 29/10/2011, um homem que parecia estar bêbado ou drogado, veio até nós
pedir comida. Ele nos reconhece por nos ver com as várias bolsas nas mãos,
trajes que estamos vestidos e os galões de suco. Fiquei meio receoso de
entregar a quentinha para ele, achando que ele não era morador de rua, mas assim
que ele comeu, dormiu, pois passamos por ele logo em seguida dormindo um sono
profundo ao lado da quentinha vazia. Ele deveria realmente estar desesperado
por comida...
Outra pessoa
que lembro foi o Marcus, na cadeira de rodas, que até tem direito ao auxílio
doença, segundo o que conversamos, mas não conseguiu recorrer porque teria de
ir à São Paulo para tentar lutar por isso. Uma pessoa que mal consegue uma
passagem de ônibus não tem condições de ir à São Paulo. Que sentimento de
impotência o fato de estarmos ali, darmos conselhos, mas não podermos fazer algo
mais por essas pessoas...
O que mais me
marcou neste dia foi um jovem que se denominou Vinícios, segundo ele, estava há
4 meses na rua por ter sido expulso de casa pelos pais. Quando o encontrei, ele
estava revirando o lixo e colocando na boca o que encontrava de comestível. Até
hoje, ao lembrar da cena, me emociono. Quando o chamei e ofereci a quentinha, o
mesmo me recebeu com um semblante tão alegre que me tocou. Sua fome que era
notória. Conversei um pouco com ele e quando dei a ele palavras de esperança,
ele me respondia com um grande sorriso no rosto.
Que sentimento
de compaixão trabalhos como esses nos proporcionam... Sei que não vamos ali
apenas para dar uma comida para um bando de vagabundos, como alguns pensam.
Pelo que notamos, a maioria trabalha, seja catando latinhas, papéis, engraxando
sapatos, vendendo doces... Um dos últimos que abordei nos relatou que desenha
(segundo ele, expõe suas artes numa igreja perto da Lapa), está trabalhando
como pedreiro em Botafogo, correndo atrás de algo melhor para sua vida e come
numa igreja na Lapa que oferece almoço todos os dias. Ele tinha um bafo muito
ruim, porém não era de drogas ou bebida, mas de quem não escova os dentes há
muito tempo.
Agora, no dia
03/12/2011, abordamos vários moradores, mas o que mais marcou foi o senhor
Valdir. Sentei do lado dele, estava cheio de mosquitos o local, mas ficamos por
muito tempo conversando. A causa dele estar na rua, segundo seu relato, é o
vício da bebida. Ele me informou que cata latinhas (vi uma bolsa com latinhas do
lado dele), é pedreiro e eletricista, mas o alcoolismo o destruiu. Tem parentes
no Rio de Janeiro e no Nordeste, porém as pessoas de sua família que moram no
Nordeste não acreditam que ele é morador de rua.
O seu Valdir
fala bem, demonstrou ser simpático, mas dado momento percebi que um demônio se
manifestou. Ele abaixou a cabeça, mudou o semblante e começou a falar “o que
ele faz”... Quando orei por ele, chorou. Contou o testemunho que um amigo dele
saiu das ruas, se converteu ao Senhor Jesus, foi liberto do álcool, tem sua
casa, inclusive o convidou para morar com ele, mas os demônios que o prendem no
vício, não permite que ele saia dessa vida.
Quando
ele começou a confessar a sua incredulidade de poder sair daquela vida, por ter
cometido muitas coisas erradas e ainda viver cometendo erros, falei para ele do
grandioso amor e da misericórdia divina e sei que a semente foi plantada em seu
coração. Que Deus alcance esse homem!
Quando
vamos para um trabalho como este, temos que estar dispostos a tudo. Uma vez,
uma irmã, sem querer, doou um casaco meu para um morador de rua. Desta vez, uma
irmã que já não ia há muito tempo, ao começar o trabalho, sua sandália
arrebentou. Mas é assim mesmo. O Inimigo trabalha, mas Deus é maior!!
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