09 junho 2025

ENSINO BÍBLICO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES


I. Preparando um Legado


A formação de valores e princípios é um dos pilares essenciais para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes, a fim de que tenham um futuro promissor em todas as esferas possíveis da vida, e tenham êxito no convívio em sociedade. Ao afirmar isso, não se trata de estimular riquezas, poder, fama ou algo do tipo, mas prepará-los para alcançar um bom potencial naquilo em que cada um foi criado por Deus para viver, de acordo com seus limites e habilidades. Gozar a vida de maneira satisfatória, independente das circunstâncias que estão à sua volta. Isso é a real prosperidade!


E a Palavra de Deus nos ensina que é dever das famílias e da comunidade instruir as novas gerações nos caminhos do Senhor:


“Os quais temos ouvido e sabido, e nossos pais no-los têm contado. Não os encobriremos aos seus filhos, mostrando à geração futura os louvores do Senhor, assim como a sua força e as maravilhas que fez. Porque ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e pôs uma lei em Israel, a qual deu aos nossos pais para que a fizessem conhecer a seus filhos; Para que a geração vindoura a soubesse, os filhos que nascessem, os quais se levantassem e a contassem a seus filhos;” Salmos 78:3-6


O Salmo acima ressalta a importância de passar às novas gerações as maravilhas de Deus: O ensino bíblico é um compromisso intergeracional. Os feitos de Deus devem ser ensinados para que as futuras gerações ponham a sua confiança no Senhor e não se esqueçam de Seus feitos. Não é correto um grande homem de Deus reter para si somente tudo que ele recebeu de Deus, mas sim, compartilhar, preparando sucessores que continuarão testemunhando do Senhor sobre a terra. Um exemplo disso foi a família do evangelista Timóteo:


“Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Loide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti.” II Timóteo 1:5


“E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.” II Timóteo 3:15


O exemplo de Timóteo reforça o poder do ensino bíblico no lar. O apóstolo Paulo reconhece a fé sincera que habitava em sua avó Lóide e em sua mãe Eunice, e destaca que desde a infância ele aprendeu as sagradas letras, que poderiam fazê=lo sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Isso mostra como a formação espiritual começa no ambiente familiar e deve ser reforçada por toda a comunidade dos que servem a Deus.





II. Como Fazer?


Deus revelou em Sua Palavra como instruir a próxima geração. Ele deixou claro que não é simplesmente levando uma criança para o culto, muito menos “jogando” ela numa salinha para que elas fiquem apenas desenhando, pintando ou ouvindo canções ditas gospels sem conteúdo bíblico que falam de pinguim, pula pula etc. Ao contrário disso:


“E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.” Deuteronômio 6:6-9



… Estarão no teu coração…


Na passagem bíblica acima, o Senhor instrui Israel a guardar as Suas palavras no coração, ou seja, tê-la como centro da sua vida, das suas emoções e do seu pensamento e, a partir daí, transmiti-las diligentemente aos filhos. Primeiro viver, depois pregar o que se vive…


“Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a lei do Senhor e para cumpri-la e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos.” Esdras 7:10



… As ensinarás e delas falarás…


Falar andando, deitando, levantando e assentando mostra que esse ensino deveria acontecer de forma contínua, em todos os momentos do cotidiano. Sendo assim, verbalizar com palavras na linguagem da criança qual o caminho correto a seguir é extremamente importante. Não se deve apenas fazer o correto, mas falar o que é o correto.


“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15


“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação do mundo. Amém.” Mateus 28:19,20


Quando Jesus determinou a ordem acima, Ele falou para os Seus discípulos pregarem apenas para adultos? As crianças também precisam que a Igreja as ensine? Com certeza que sim! Todas as criaturas estão englobadas as crianças, adolescentes e jovens também. E, na verdade, eles, principalmente, como é possível visualizar nas passagens a seguir:


“Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, e não os impeçais de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus.” Mateus 19:14


“E, lançando mão de um menino, pô-lo no meio deles e, tomando-o nos seus braços, disse-lhes: Qualquer que receber um destes meninos em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, recebe, não a mim, mas ao que me enviou.” Marcos 9:36,37


O Senhor Jesus demonstrou o imenso valor que dá às crianças. Ele não apenas as acolhe, mas as aponta como exemplo de humildade e pureza. Ao tomar uma criança nos braços e declarar que quem receber uma criança em Seu nome é o mesmo que recebê-Lo, mostra que há um profundo valor espiritual na atenção, cuidado e ensino voltados às crianças.


O ensino bíblico deve abranger todas as faixas etárias, e a formação espiritual de crianças e adolescentes é parte vital da Grande Comissão. Ensinar a guardar tudo o que o Senhor ordenou começa pelo evangelho no lar e se estende ao ensino nas comunidades de fé, por meio de professores, líderes e voluntários.



… Assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te…


A ideia aqui é que o ensino bíblico não se restringe a um momento isolado, mas permeia o viver diário da criança e do adolescente, orientando suas decisões e atitudes desde os primeiros anos de vida. O tempo todo, de forma constante!


“Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele.” Provérbios 22:6


O ensino da Bíblia desde a infância é também uma forma de guiar a criança para uma vida de retidão. O sábio conselho do rei Salomão em Provérbios nos orienta a ensinar os princípios bíblicos desde cedo. E isso não se trata apenas de um investimento espiritual, mas também social e emocional, pois ajuda a criança a desenvolver caráter, empatia, respeito e temor a Deus. 

Instruir no caminho é diferente de instruir o caminho. Quem instrui o caminho diz: “É por ali. Vai lá!” Já quem instrui no caminho, diz: “É por ali. Vamos juntos que eu te ensino como chegar!” Deu para entender? Instruir no caminho não é deixar a criança ir para um prédio onde a Igreja se reúne. Mas sim, ir com ela e demonstrar como é ser Igreja!

Se o pai e a mãe pede para o filho mentir, dizendo que não está em casa quando o cobrador chega, seu comportamento tende a não ser diferente no futuro. Vai aprender a enganar, inclusive, aos próprios pais. Agora, se os pais oram e lêem as Escrituras diariamente, isso deixará marcas positivas na vida dos filhos para sempre.


Por um longo tempo, minha mãe orava junto com o líder dela pela rádio todos os dias ao meio dia e às 18h da tarde, e até o fim da vida dela, ela orava e lia a Bíblia todos os dias antes de dormir. Lembro da minha irmã ajoelhada na cama orando todos os dias antes de dormir também. Recordo-me da minha avó que até quando podia, mesmo com pouca força andava muito até o seu local de culto. Quando começou a enfraquecer, às vezes até caía no meio do caminho. Mas isso não a deixava de frequentar os cultos. Tanto minha mãe, minha avó e minha tia, muitas vezes me pediam para escrever pedidos de oração para levar a fim de que a Igreja orasse. Mas não foram só exemplos religiosos, mas de caráter de filhas de Deus. A solidariedade quando alguém precisava, o perdão para aqueles que as ofendiam etc. O que você acha que tudo isso gerou em mim? Marcas eternas! 





… Atarás por sinal na mão, e por frontais entre os olhos, as escreverás nos umbrais da casa, e nas portas… 


Atar na mão e nos olhos e escrever na porta revela que o ensino não é só verbal, mas sim, é visual e simbólico. Deus não mandou apenas praticar e falar os mandamentos, mas também demonstrá-los de formas visuais e práticas. Portanto, os objetos, roupas e móveis também precisam, de alguma forma, transmitir mensagens sobre Deus. A ideia é proporcionar um ambiente-formador: a casa ensina, os objetos ensinam e o visual ensina!


Imagina que alguém pinta o muro, tem adesivo na porta, quadros, objetos nos móveis e roupas que fazem referência às Escrituras, porém maltratam os filhos com palavras e ações, dão mal testemunho comprando e não pagando, são avarentos, mexeriqueiros e todo tipo de comportamento social e espiritual reprovável, o que adianta a passagem bíblica colada na parede? Ou, no caso dos adultos serem aparentemente uma bênção na igreja, porém não oram e nem ensinam aos filhos a Palavra de Deus? Entende que tudo precisa ser um conjunto? Uma vez conheci um adolescente que alegou que seu pai, um líder importante na Igreja, nunca tinha orado por ele quando estava doente… Complicado!


Uma vida de fé genuína, que reflete em ações de fé genuína resultam em roupas e objetos que demonstrem essa fé. Jamais apenas esse último, pois, senão, é hipocrisia. Como dizem: As nossas ações falam mais alto que nossas palavras.





Pensando agora em um contexto de Igreja, o uso de sinais nas mãos, frontais nos olhos e inscrições nas portas podem ser também aplicados atualmente com cartazes, ilustrações, figuras, objetos concretos, cores e até dramatizações. Todas essas são maneiras modernas de aplicar esse princípio, mas que remontam a tempos antigos. Os próprios desenhos nas paredes das catacumbas de Roma, as ilustrações nos códices, os quadros, paredes e vitrais antigos com cenas bíblicas, até as atuais alto produções cinematográficas, se forem fiéis às Escrituras, contribuíram e ainda podem colaborar bastante com o ensino da Bíblia.


Deus costumava pedir aos profetas para através de roupas, objetos e ações transmitir a mensagem que Ele queria compartilhar. Abaixo, apenas alguns exemplos disso:


“Sucedeu, ao final de muitos dias, que me disse o Senhor: Levanta-te, vai ao Eufrates, e toma dali o cinto que te ordenei que o escondesses ali. E fui ao Eufrates, e cavei, e tomei o cinto do lugar onde o havia escondido; e eis que o cinto tinha apodrecido, e para nada prestava. Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Assim diz o Senhor: Do mesmo modo farei apodrecer a soberba de Judá, e a muita soberba de Jerusalém.” Jeremias 13:6-9


“Tu, pois, ó filho do homem, toma um tijolo, e pô-lo-ás diante de ti, e grava nele a cidade de Jerusalém. E põe contra ela um cerco, e edifica contra ela uma fortificação, e levanta contra ela uma trincheira, e põe contra ela arraiais, e põe-lhe aríetes em redor. E tu toma uma sertã de ferro, e põe-na por muro de ferro entre ti e a cidade; e dirige para ela o teu rosto, e assim será cercada, e a cercarás; isto servirá de sinal à casa de Israel.” Ezequiel 4:1-3


O próprio Jesus, em Seu contexto, convidava os discípulos para fazer comparações simbólicas com o que eles visualizavam, com os ensinos que Ele queria transmitir:


“Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta… Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam…” Mateus 6:26-28


A pedagogia moderna confirma o que a Bíblia já mostrava: o ser humano aprende melhor com estímulos visuais e interativos. Deus sabia disso ao mandar o povo usar elementos visíveis e constantes, como escrever nas portas ou prender nas mãos. Uma criança que vê todos os dias versículos ilustrados na parede da casa ou na sala da igreja tende a memorizar com mais facilidade. Um recurso como um livro visual com figuras ou dramatizações reforça a conexão emocional com o conteúdo.


Quando Deus manda escrever as palavras nos umbrais da casa e nas portas, está mostrando que o ambiente da criança deve ensinar também. Decoração bíblica nas salas infantis da igreja, materiais com imagens visuais de histórias bíblicas e uso de recursos como fantoches, teatro, painéis e maquetes. 


Lembro dos livros ilustrados (alguns tenho até hoje) que minha mãe comprava na Igreja Universal e eu pintava, as histórias bíblicas em quadrinho da aula de religião da escola sobre o livro de Gênesis. Lembro-me até hoje das cartolinas desenhadas com as letras das canções infantis e versículos nos dias de EBF - Escola Bíblica de Férias, na Igreja Batista Nova Filadélfia da VK, com desenhos do personagem Smilinguido. E, já na adolescência, as cartolinas com desenhos dos móveis do tabernáculo que a professora de EBD Simone Galvão levava.


O ensino multissensorial (ouvir, ver, tocar) facilita a aprendizagem. Portanto, usar recursos visuais como ilustrações, objetos concretos, materiais gráficos e visuais criativos não é modernismo, mas uma forma bíblica e eficaz de comunicar a Palavra de Deus às crianças, exatamente como Deus instruiu Israel.





III. Até que idade ensinar?


Na atualidade, dependendo do tipo de análise, uma criança pode ser aquela até seus 10, 11, 12 ou, no máximo 14 anos. Já a adolescência, pode ser a fase da vida até os 18, 19, 20 ou 24 anos, segundo as diferentes visões:

  • Segundo teóricos tradicionais da Psicologia do Desenvolvimento Humano, a infância vai até aos 11 anos e a adolescência vai até aos 20 anos de idade, aproximadamente. 

Fonte: PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

  • De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), são consideradas crianças os indivíduos de 0 a 12 anos incompletos e adolescentes aqueles de 12 a 18 anos incompletos. O Código Penal estica um pouco a infância ao definir como vulneráveis aqueles até os 14 anos. A penalidade é aumentada em vários casos em que o crime for cometido contra um menor de 14 anos.

  • Já para a OMS - Organização Mundial da Saúde, a adolescência é a fase da vida entre a infância e a idade adulta, dos 10 aos 19 anos.

Fonte: https://www.who.int/health-topics/adolescent-health/#tab=tab_1

  • Atualmente, há quem defenda que o cérebro só está totalmente formado aos 25 anos, e assim, a definição de adolescência passa a ser considerada de 11 até os 24 anos, segundo a revista científica Lancet Child & Adolescent Health.

Fonte: https://afnoticias.com.br/curiosidades/adolescencia-agora-dura-ate-os-24-anos-entenda-o-porque


Para as Escrituras, o que hoje é chamado de adolescência terminava aos 19 anos, pois a fase adulta iniciava a partir dos 20 anos, quando o homem era considerado apto para servir no exército, ou seja, um adulto para cumprir as responsabilidades civis:


“Da idade de vinte anos para cima, todos os que em Israel podem sair à guerra, a estes contareis segundo os seus exércitos, tu e Arão.” Números 1:3 (ver também Levítico 27:3)


Porém, quando se trata das questões espirituais, o serviço sacerdotal só poderia iniciar aos 30 anos de idade, o que se exigia uma maturidade mais estabelecida:


“Da idade de trinta anos para cima até aos cinquenta anos, será todo aquele que entrar neste serviço, para fazer o trabalho na tenda da congregação.” Números 4:3


Esta é a idade que José começou a governar o Egito (Gênesis 41:46) e Jesus começou o Seu ministério:


“E este mesmo Jesus estava como que começando os trinta anos, sendo (como se cuidava) filho de José, e José de Heli,” Lucas 3:23


Sendo assim, o contexto bíblico não foge às análises mais modernas com relação à classificação das fases do desenvolvimento humano. Até os vinte e poucos anos, nossas crianças, adolescentes e jovens precisam ser muito orientados e conduzidos, para se tornarem homens e mulheres que entendam e cumpram da melhor maneira possível o seu papel como ser humano.


Mas recordo que um servo de Deus por nome Mauro, que fora meu líder da época da adolescência por dois anos, e que foi como um pai para mim, mesmo sem ser meu líder oficialmente depois desse período, durante muitos anos continuou me ajudando e me corrigindo quando ele considerava necessário. Quando completei 18 anos, a Igreja me concedeu o cargo de líder de jovens. Foi um grande desafio! Mas quem estava lá para me apoiar? Ele. E como isso foi importante para mim!


E, para falar a verdade, no que se refere a questão espiritual, não há idade física para os que geram filhos na fé... Cada novo discípulo, um bebê gerado que vai precisa aprender a engatinhar, caminhar, andar de bicicleta até aprender a dirigir seu próprio veículo!






III. Ensinar, um Desafio!


“Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;” Romanos 12:5-7


No corpo de Cristo, cada um recebe dons diferentes. No texto acima o apóstolo Paulo descreve a diversidade de ministérios e a importância de cada função. Ensinar é um desses dons, e quem o faz deve fazê-lo com dedicação. Ensinar a Bíblia a crianças e adolescentes é um ministério essencial, pois prepara o coração para uma vida centrada em Deus.

Ler a lição a ser ministrada no dia da aula, não é um bom exemplo de dedicação. É preciso ler a passagem bíblica a ser ministrada, reler, buscar reforço em dicionários, enciclopédias, comentários bíblicos, preparar recursos visuais, pensar em exemplos práticos para facilitar o entendimento, elaborar dinâmicas para ajudar na compreensão e desafios a serem praticados pelos alunos após a aula. Ufa! Não é fácil ensinar…


Já percebeu alguma vez quando um professor está perdido por ensinar de forma insegura? Quão trágico é quando um docente passa a aula toda lendo o conteúdo da matéria! Não produz interação, não sabe responder nada do que os alunos perguntam, não faz questão de testar o conhecimento dos alunos, até porque ele mesmo não sabe o conteúdo… Tenso!


O desafio de todo mestre é a dedicação ao que vai ser ensinado. Mesmo que se tenha ensinado determinada matéria diversas vezes e saiba tudo de cabeça, cada turma e aluno é diferente. É preciso avaliar o contexto e se adequar a cada realidade. Que desafio!





“E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade,” II Timóteo 2:24,25


O que significa “sofredor”? A palavra traduzida como sofredor nesse texto vem do grego ἀνεξίκακος (anexikakos), que significa alguém paciente no sofrimento, tolerante, capaz de suportar o mal sem revidar, longânimo diante da oposição.

Ou seja, não se trata de "gostar de sofrer", mas de suportar com firmeza e paciência as dificuldades, especialmente no contexto de ensino, correção e discipulado. Ao ensinar, especialmente a quem resiste (como crianças inquietas ou adolescentes em crise), o servo do Senhor precisa ser paciente, tolerante e persistente, sem se irritar, mesmo diante de rejeição ou desinteresse.

Ensinar como Cristo ensinou exige essa mesma postura de sofrer com paciência o processo até que a verdade alcance o coração do outro. Alguns não entenderão de primeira, outros resistirão, haverá comportamentos difíceis e pode haver desinteresse ou até zombaria.

Muitas vezes o professor não terá o apoio da família da criança e do adolescente. Pelo contrário, temos pais que não determinam que o filho aprenda a Palavra (obriga o filho a tomar banho, comer, escovar os dentes, ir para a escola etc. porém, na questão espiritual relaxa. Vou ver se meu filho vai querer ir… Como se a criança não tivesse o raciocínio perfeito para decidir se deve ou não comer, se vestir, tomar um remédio, mas na questão espiritual, deixa à cargo dele. O que pesará mais para uma criança? Ir para o ensino bíblico ou passar o dia todo na rua brincando com os vizinhos? Será que esses pais também perguntam ao filho se eles querem doce ou arroz e feijão? Se querem acordar cedo para ir para escola ou se continuam dormindo? Por que negligenciam tanto a formação do caráter e da espiritualidade da criança e do adolescente? 

Mas o educador é chamado para ser manso, não desistir, insistir com amor e sofrer o processo com paciência, na esperança de que Deus dê arrependimento e entendimento no tempo certo, tanto aos responsáveis quanto aos alunos.


Acima de todas as técnicas pedagógicas, acima de todo conteúdo, está o amor ao ensino e o carinho para com os alunos. O cuidado e acolhimento deixa mais marcas do que qualquer ação!


Por fim, ensinar a Bíblia às crianças e adolescentes não é apenas transmitir informação, mas formar discípulos. É plantar sementes que frutificarão com o tempo, preparando uma nova geração que ame, tema e sirva ao Senhor. Não é sobre preparar pessoas educadas e que façam o bem. Isso será uma consequência como estilo de vida daquele que aprendeu a amar e a servir a Deus.

Em tempos de tantos desafios morais, sociais e espirituais, o ensino bíblico se revela como um alicerce seguro que conduz à verdade, à justiça e à vida eterna. Vamos proclamar!





01 abril 2025

OS LUMINARES PARA DIA E NOITE!



“E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos.”

Gênesis 1:14 


Esse texto bíblico apresenta pelo menos quatro objetivos para Deus por os luminares no firmamento:

  1. Para separar a manhã da noite;
  2. Para que sejam sinais da sua aliança com a humanidade por meio de Adam;
  3. Para indicar os tempos determinados (tempos proféticos);
  4. E para determinar os dias e os anos (o calendário).


O objetivo desse texto é apresentar uma análise bíblica e contextual sobre o primeiro desses tópicos.


A SEPARAÇÃO ENTRE A MANHÃ E A NOITE:


Quando se olha para o céu e se percebe o sol nascendo de um lado pela manhã, subindo até o alto no meio e, depois, se pondo do lado oposto, parece que é o sol se movendo, mas, na verdade, é o planeta Terra que está em um movimento sempre com a mesma velocidade em torno do seu próprio eixo. A duração desse giro, chamado de rotação, é de aproximadamente 24 horas para dar uma volta completa. Este movimento sempre ocorre na mesma direção, de oeste para leste, e é o responsável pela ocorrência dos dias e das noites e, pois, enquanto um hemisfério é iluminado, o outro fica sem a luz. A metade do tempo gasto pela Terra em sua rotação (12 horas) corresponde ao período de luz e a outra corresponde ao período escuro. Porém, de acordo com a época do ano, ocorrem variações (BISCARO, 2007).


Geralmente, quando no relógio a hora passa de 18:00h, as pessoas passam a cumprimentar como “Boa noite!”, mesmo que ainda não tenha escurecido, dependendo da estação do ano, não é mesmo?

O entendimento que a chegada da noite marca o início de um novo dia é bem antigo e a origem desse pensamento remonta aos primeiros seres humanos.

Isso acontece desde o primeiro casal, quando esse período transitório era chamado de “viração do dia”:


“E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim.”

Gênesis 3:8 


O termo hebraico traduzido como viração é rûwach [רוּחַ] é significa vento, hálito ou espírito (Concordância de Strong). Segundo o Comentário Bíblico de Beacon, o termo “viração do dia" é uma expressão idiomática para aludir ao início da noite, pois no Oriente Próximo sopra um vento fresco sobre a terra ao pôr-do-sol.


Para as Escrituras Sagradas, por volta desse horário um novo dia começava. Isso mesmo! A primeira parte do dia era a escuridão. Só depois vem a claridade. Primeiro a noite, depois a manhã.



Segundo o Dicionário de Jesus e Evangelhos, os romanos contavam o dia de meia-noite a meia-noite — prática que perdura entre hoje —, enquanto os judeus iniciam o dia com o surgimento da lua, concluindo-o no dia seguinte pela tarde. Para designar um dia completo, costumava-se empregar a expressão “noite e dia”, e suas variantes, como podemos ver nos textos a seguir:


“... E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.” Gênesis 1:5

“... e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.” Gênesis 1:8 

“E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.” Gênesis 1:13 

“E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.” Gênesis 1:19 

“E foi a tarde e a manhã, o dia quinto.” Gênesis 1:23 

“... e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.” Gênesis 1:31 


À tarde, pela manhã e ao meio-dia, farei as minhas queixas e lamentarei; e ele ouvirá a minha voz.” Salmos 55:17


“E era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia.” Lucas 2:37


“Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e pelos montes, ferindo-se com pedras.” Marcos 5:5



Essa questão já demonstra um símbolo profético, no sentido que, ainda que as trevas atuem durante muito tempo na história da humanidade, o triunfo final da luz é garantido!


“Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em vós; porque vão passando as trevas, e já a verdadeira luz ilumina.” I João 2:8


Muitos se perguntam o porquê do Senhor não acabar logo com todo sofrimento, maldade, injustiças e a morte. Mas, pela Palavra, entende-se que a revanche virá por parte do Criador logo, logo… 

O que são 6 mil anos de história da humanidade comparados à toda eternidade? Nada!

O símbolo dos luminares que representa o combate entre as trevas e a luz garante a vitória final do Senhor.

Em outra oportunidade será discutido melhor esta questão.


Deus permitiu essa divisão básica entre período escuro da noite e o período claro do dia seja perceptível até mesmo por uma simples criança.

Porém, além da separação básica entre tardes e manhãs, os luminares ajudam a fazer uma organização ainda mais detalhada:




AS QUATRO FASES DO DIA:


Desde os tempos mais antigos, os seres humanos perceberam que o calor do sol não nos atinge de maneira uniforme: há momentos em que o luminar maior brilha intensamente e outros em que sua luz é mais suave. 

Isso acontece porque o Sol emite radiação na forma de ondas eletromagnéticas, que promovem o calor e a iluminação do planeta. 

Nas 24 horas de um dia, a radiação solar irá atingir a superfície de uma localidade qualquer com diferentes intensidades, dependendo do horário, sendo a máxima radiação recebida por volta de meio dia.

No decorrer de um dia, as temperaturas do ar e solo irão variar de acordo com a posição do Sol acima do horizonte. O calor atinge um valor máximo coincidente com a altura máxima do sol ao meio dia. Após este ponto ocorre o declínio das temperaturas. Tal fenômeno irá se estender após o pôr-do-sol e continuar durante toda a noite e madrugada. As temperaturas só voltarão a aumentar com um novo nascer do sol (BISCARO, 2007).

Com base nessa observação, os povos começaram a diferenciar os períodos do dia e a organizar suas atividades de acordo com essas mudanças. Tem-se, então, quatro períodos do dia:


a. Da aurora até ao meio da manhã (cerca de 6h às 9h):

A aurora é vista como o início da manhã, quando o sol nasce e a claridade surge. Esse é o momento ideal para começar as atividades humanas.

"Levanta-se, mesmo à noite, para dar mantimento à sua casa, e a tarefa às suas servas.” Provérbios 31:15

"Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão; porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela, ou se ambas igualmente serão boas." Eclesiastes 11:6

"Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha.” Mateus 20:1-2

"E disse-me: Deixa-me colher e ajuntar entre as gavelas após os segadores. Assim, pois, veio, e desde pela manhã até agora está aqui, a não ser um pouco que esteve na casa.” Rute 2:7


Para a agricultura, esse primeiro horário da manhã e também o final da tarde são os mais adequados para irrigar, pois a temperatura é mais baixa e a evaporação da água é menor. Isso permite que as plantas absorvam mais umidade e fiquem hidratadas por mais tempo. 

“...as plantas apresentaram o menor potencial hídrico diário no período de 12h00min às 14h00min” (SILVEIRA, 2013, p. 52). Sendo assim, o ideal é que a irrigação seja feita antes do meio-dia.

Para quem gosta, são também os melhores períodos para aproveitar uma praia e não se queimar tanto!

Muitos produtos agrícolas, como grãos e hortaliças, são colhidos também no início da manhã, quando ainda estão frescos e com menos perda de umidade. Acredita-se que frutas colhidas sob o forte calor do sol podem murchar mais rápido. Já alguns grãos precisam ser colhidos quando estão bem secos para evitar o apodrecimento no armazenamento


b. Do meio da manhã até ao meio-dia (cerca de 9h ao meio dia);

O meio da manhã está associado ao aquecimento gradual do sol até o seu ponto mais forte.

Enquanto o sol não apresenta sua maior potência, esse horário, segundo o Comentário Bíblico de Beacon, ocorre a reunião dos desocupados na praça, em grego, ágora, um lugar central de reunião de cada cidade onde as crianças brincavam (Mateus 11:16), as pessoas faziam compras (agorazo = "comprar"), os magistrados julgavam (Atos 16:19), e os filósofos discutiam (Atos 17:17).

“E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça,” Mateus 20:3


c. Do meio-dia até a tarde (cerca de meio-dia até às 15h):

Meio-dia é o momento em que o sol está no ponto mais central do céu e quando faz mais calor.

Irrigar a plantação nesse horário não é o ideal porque o calor intenso faz com que a água evapore rapidamente, desperdiçando recursos hídricos e reduz a eficácia da irrigação. 

“Sob o clima de meio-dia… uma grande parte da água perde-se para a evaporação e às raízes apenas chega uma quantidade insuficiente” (LOURENÇO, 1883).

Além disso, a água fria em contato com o solo quente pode causar choque térmico nas raízes de certas plantas.


Pode-se aproveitar esse momento para buscar uma sombra e repousar, quem sabe, comer um lanche para recuperar as energias e voltar ao trabalho na sequência. É o que fez Rute, quando colhia no campo de Boaz:

“Disse-me ela: Deixa-me colher espigas, e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores. Assim ela veio, e desde pela manhã está aqui até agora, a não ser um pouco que esteve sentada em casa… E, sendo já hora de comer, disse-lhe Boaz: Achega-te aqui, e come do pão, e molha o teu bocado no vinagre. E ela se assentou ao lado dos segadores, e ele lhe deu do trigo tostado, e comeu, e se fartou, e ainda lhe sobejou… E esteve ela apanhando naquele campo até à tarde; e debulhou o que apanhou, e foi quase um efa de cevada.” Rute 2:7,14,17

Rute chegou bem cedo, parou para comer e, depois, seguiu até tarde trabalhando…


d. Da tarde ao pôr do sol (cerca de 15h até às 18h)

Nesse período de transição, o sol começa a descer e o clima vai se tornando mais ameno.

Aqui o solo volta a ficar mais fresco e úmido, o que favorece novamente a irrigação das plantas e indica também a hora de deixar o campo e voltar para casa, a fim de descansar e restaurar as energias para o próximo dia de trabalho.

Assim, o pôr do sol marca o fim das atividades, o pagamento do dia de trabalho aos empregados, a volta para casa e o início da noite.

“E, aproximando-se a noite, disse o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando pelos derradeiros, até aos primeiros. E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um. Vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um dinheiro cada um.” Mateus 20:8-10

Segundo a Concordância de Strong, onde acima foi traduzido por “dinheiro”, seria “denário”, ou dēnárion [δηνάριον], significando “que contem dez”. O denário era uma moeda romana de prata usada na época de Jesus. Recebeu este nome por ser equivalente a dez “asses”.

Da parábola dos trabalhadores da vinha, tem-se a impressão de que o denário era costumeiramente o pagamento devido por um dia de trabalho.



III. AS DOZE HORAS DO DIA


Com a necessidade de maior precisão impulsionada por fatores religiosos e de trabalho, surgiram os primeiros instrumentos de medição do tempo que organizavam de maneira mais detalhada o dia (no caso, a manhã e a tarde), passando, então, a ser dividido em doze horas, segundo o próprio Senhor Jesus afirmou:


“Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;” João 11:9


Para medir as doze horas do dia utilizava-se instrumentos como o relógio de sol. 

“Há indícios de que os babilônicos utilizavam os relógios de sol, isto é, uma vareta espetada no chão formando com este um ângulo de 90º e sua sombra projetava a duração do dia, bem como os egípcios, cerca de 1500 a.C. O relógio de sol constitui-se em um importante instrumento de medida do tempo que continuará sendo utilizado nos séculos posteriores em diversos lugares do planeta” (GONÇALVES, 2018, p. 16)


Como era esse Relógio de Sol?

Esse relógio era um dispositivo portátil de pedra calcária, com cerca de 16 cm de comprimento. Seu design era simples, mas funcional:

Possuía uma base plana onde estavam gravadas 12 marcas em forma de semicírculo, representando a divisão das doze horas diurnas. Além disso, possuia uma haste vertical, provavelmente de madeira ou metal, chamada de gnômon, que era inserida na extremidade do relógio para projetar a sombra. Conforme o Sol se movia, a sombra avançava sobre as marcas horárias indicando o horário. Pela manhã, essa haste era colocada em um lado do relógio e, ao meio dia, no lado oposto, permitindo a medição do tempo na parte da tarde, pois a direção da sombra mudava conforme o movimento do Sol.



“Disse Isaías: Isto te será sinal, da parte do SENHOR, de que o SENHOR cumprirá a palavra que disse: Adiantar-se-á a sombra dez graus, ou voltará dez graus atrás? Então disse Ezequias: É fácil que a sombra decline dez graus; não seja assim, mas volte a sombra dez graus atrás. Então o profeta Isaías clamou ao SENHOR; e fez voltar a sombra dez graus atrás, pelos graus que tinha declinado no relógio de sol de Acaz.” II Reis 20:9-11


Tendo entendido a forma como os antigos dividiam o tempo em doze horas, segue abaixo alguns exemplos de marcação de horas que aparecem nas Escrituras:


a. Terceira Hora (8h às 9h)

“E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça,” Mateus 20:3 

"E era a hora terceira, e o crucificaram." Marcos 15:25

“Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, sendo a terceira hora do dia.” Atos dos Apóstolos 2:15


b. Sexta Hora (Meio-dia às 13h)

“Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo.” Mateus 20:5

“E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta.” João 4:6 

"E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei." João 19:14

“E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona.” Mateus 27:45

“E no dia seguinte, indo eles seu caminho, e estando já perto da cidade, subiu Pedro ao terraço para orar, quase à hora sexta.” Atos dos Apóstolos 10:9


c. Sete horas (13h às 14h)

“Perguntou-lhes, pois, a que hora se achara melhor. E disseram-lhe: Ontem às sete horas a febre o deixou.” João 4:52


d. Nona Hora (15h às 16h)

“E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? Isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Mateus 27:46

“E PEDRO e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.” Atos 3:1

“Este, quase à hora nona do dia, viu claramente numa visão um anjo de Deus, que se dirigia para ele e dizia-lhe: Cornélio.” Atos dos Apóstolos 10:3

“E disse Cornélio: Há quatro dias estava eu em jejum até esta hora, orando em minha casa à hora nona.” Atos dos Apóstolos 10:30


e. Décima hora (16h às 17h)

“Ele lhes disse: Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima.” João 1:39


f. Hora Undécima (a última hora do dia - 17h às 18h)

“E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos, e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia? … Dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia.” Mateus 20:6,12 


IV. HAVIA SEPARAÇÃO DO TEMPO EM MINUTOS?


Não! Os minutos e segundos só vão surgir como unidades de medida do tempo bem recentemente. Porém, é interessante a forma com que as Escrituras demonstram como os antigos contavam o movimento da terra em relação ao sol: através da geometria!


Os dez graus mencionados em II Reis 20:9-11 representam uma fração do dia no relógio de sol de Acaz, mas para entender o tempo exato envolvido, é necessário fazer alguns cálculos.  


Se um círculo completo tem 360 graus, um relógio de sol possui uma circunferência equivalente a 180 graus (meio círculo).  

Assumindo que 180 graus representam, então o tempo do dia (aproximadamente 12 horas), então:  

- Cada grau representaria cerca de 4 minutos (pois 180 graus ÷ 12 horas = 15 graus por hora; 60 minutos ÷ 15 graus = 4 minutos por grau).  

- Dez graus representariam cerca de 40 minutos (10 × 4 minutos).  

Sendo assim, Deus fez o tempo voltar 40 minutos! Só o Senhor é Deus!



V. COMO ERA ORGANIZADA A NOITE?


“Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho.” Lucas 2:8

Especialmente nos dias de verão, os pastores levavam os seus animais para pastarem no campo à noite. Admirando a beleza dos céus, quem sabe, foram importantes para a observação dos céus à noite,

A noite não aparece nas Escrituras sendo dividida em horas pelos judeus, mas sim, organizada por períodos denominados de vigílias.

Diversos autores defendem a ideia de que os judeus (ainda no chamado Antigo Testamento) dividiam a noite em três turnos de guardas, mas, depois, por influência da cultura romana, passaram a separar a noite em quatro períodos, cada um com cerca de três horas:


“Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo ou se pela manhã.” Marcos 13:35


Seguem textos que comprovam a ideia da noite organizada por quatro vigílias:


1. Primeira Vigília (Fim da tarde / Início da noite – por volta das 18h até às 21h):

“Levanta-te, clama de noite, no princípio das vigílias; derrama como água o teu coração diante da face do Senhor; levanta para ele as mãos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome à entrada de todas as ruas.” Lamentações 2:19


2. Segunda Vigília (Meia-noite – por volta das 21h até às 00h):

“Chegou, pois, Gideão e os cem homens que com ele iam ao extremo do arraial, ao princípio da vigília da meia-noite, havendo-se já colocado os guardas; e tocaram as trombetas e quebraram os cântaros que tinham nas mãos." Juízes 7:19


3. Terceira Vigília (Antes do amanhecer – por volta das 00h até às 3h):

“Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília, e assim os achar, bem-aventurados são os tais servos." Lucas 12:38


4. Quarta Vigília (Entre o canto do galo e o Amanhecer – por volta dàs 3h até às 6h):

“E aconteceu que, na vigília da manhã, o Senhor, na coluna de fogo e de nuvem, viu o campo dos egípcios e alvoroçou o campo dos egípcios.” Êxodo 14:24

“Sucedeu que, ao outro dia, Saul dividiu o povo em três companhias, que, pela vigília da manhã, vieram para o meio do arraial e feriram a Amom, até que se fez sentir o calor do dia. Os sobreviventes se espalharam, e não ficaram dois deles juntos.” I Samuel 11:11

“Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andando por cima do mar." Mateus 14:25


VI. AS DOZE HORAS DA NOITE BASEADAS NAS ESTRELAS


É importante destacar que, embora os judeus do tempo bíblico não demonstram o hábito de contar as horas da noite, outros povos tinham esse costume:

“E, chamando dois centuriões, lhes disse: Aprontai para as três horas da noite duzentos soldados, e setenta de cavalaria, e duzentos arqueiros para irem até Cesareia;” Atos dos Apóstolos 23:23


Os antigos desenvolveram métodos impressionantes para medir o tempo observando os astros. Os astrônomos antigos perceberam que as estrelas seguiam um padrão regular de movimento. Eles usavam esse conhecimento para dividir a noite em períodos.


a. O surgimento das estrelas: Se uma estrela específica sempre aparece no mesmo ponto do céu ao anoitecer, os astrônomos podem usá-la como um marco de tempo. Eles catalogaram quais estrelas ou constelações que surgiam e desapareciam em momentos fixos da noite, funcionando como marcadores de horas. 

Se um astrônomo via a estrela X surgindo no horizonte, ele sabia que a primeira hora da noite havia começado. Quando a estrela Y aparecia, sabia que a segunda hora havia se iniciado, e assim por diante.


b. O movimento das estrelas: A Terra gira em torno de seu próprio eixo de oeste para leste, fazendo com que as estrelas pareçam se mover de leste para oeste no céu. Como a Terra leva 24 horas para girar 360 graus, as estrelas parecem se mover a uma taxa de 15 graus por hora. Assim, se um astrônomo observar uma estrela a 30 graus acima do horizonte, ele saberá que duas horas se passaram desde que ela surgiu no horizonte (30° ÷ 15°/h = 2h).  


c. A comparação entre as estrelas e a lua. Para exemplificar, um astrônomo escolhe a estrela Sírio, que sempre nasce no mesmo ponto do horizonte todas as noites. Suponha que Sírio surge no horizonte exatamente 2 horas após o pôr do sol. Já a constelação de Órion aparece 3 horas depois de Sírio. Quando Órion surge no céu, sabe-se que 5 horas se passaram desde o pôr do sol. Depois, mede-se a distância entre a Lua e uma estrela fixa. Se a Lua tiver avançado 5 graus, ele sabe que 10 horas se passaram. E assim por diante.


Esse conhecimento era essencial para navegação, por exemplo. Além dos astros servirem como guia, calcular o tempo ajudava a definir as marés e, com isso, o local ideal para ancorar os barcos, pescar etc.


Até aqui, foi apresentada a organização do dia entre períodos e horas, e a organização da noite entre vigílias e horas.

Mas, e as semanas, meses, estações e anos, também eram medidos desde a antiguidade pelos luminares?

Sim! Porém é o que será analisado em uma próxima oportunidade, se o Senhor permitir.


O Deus que fez aparecer os luminares no dia quarto de Gênesis 1 revelou a importância de usá-los como marcadores de tempo. Não só o sol ou só a lua, mas o sol, a lua e as estrelas. Toda a imensidão do Universo que o homem pode perceber revela o poder do Criador, mas também a Sua organização. Tudo tem propósito, pode favorecer ao homem e revela segredos ocultos desde a fundação do mundo…




Fonte Bibliográfica:

BISCARO, Guilherme Augusto. Meteorologia Agrícola Básica. 1ª. Edição. UNIGRAF - Gráfica e Editora União Ltda. 2007


GONÇALVES, Rafael Marques. A Trigonometria e a História da Matemática em sala de aula: uma experiência com a construção de instrumentos de navegação e do relógio de sol. Instituto de Matemática e Estatística. Licenciatura em Matemática Porto Alegre. 2018.


SILVEIRA, Marques de Castro. Fisiologia de plantas de meloeiro cultivadas sob diferentes níveis de irrigação. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Engenharia Agrícola, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Agrícola, Fortaleza, 2013.